É dia de trabalhar fora do meu... HELSINKI

É dia de trabalhar fora do meu ergástulo domiciliar. A rotina é a mesma e me chama com a sua insistência habitual, mas antes de me perder nas tarefas, abro a porta do escritório, e lá, entre o vidro das divisórias, encontro algo que não sei bem como descrever. Não sei se posso chamar de sorriso, porque o que vejo mais parece um sol do meio-dia, daqueles que queimam com uma intensidade que ultrapassa o simples calor da pele. É algo tão forte e radiante que chega a paralisar, a congelar o tempo por um instante. Um sorriso capaz de fazer o mundo, mesmo que por um segundo, desacelerar, virar câmera lenta, como se o universo decidisse nos dar uma pausa.
É engraçado como cenas tão ligeiras, quase sem importância no ritmo normal de um dia, podem se transformar em algo tão grandioso dentro de nossa mente. Um simples gesto, um sorriso, que poderia ser só mais um detalhe, vira uma cena épica, digna de um filme. Como uma obra-prima que se revela nas coisas mais cotidianas. Um momento, apenas um momento, mas que, quando fixado na memória, ganha uma dimensão inesperada.
Naquele sorriso, no brilho nos olhos que o acompanha, encontro a leveza de tudo o que é possível. E, por um breve instante, esqueço do que estava ali para fazer, porque, de alguma forma, todo o resto parece menor diante de uma simples expressão de felicidade que transforma o trivial em algo extraordinário.