⁠AS REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS.. “A... José D'Assunção Barros

⁠AS REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS . . “A primeira revolução industrial é aquela na qual os humanos tomam partido de uma compreensão mais adequada da força da gravidade... Frase de José D'Assunção Barros.

⁠AS REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS
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“A primeira revolução industrial é aquela na qual os humanos tomam partido de uma compreensão mais adequada da força da gravidade, das leis do movimento, e da possibilidade de converter energia térmica em energia cinética. Podemos entendê-la como a revolução mecânica por excelência (ou como a revolução termomecânica). É a revolução dos transportes a vapor – barcos ou locomotivas –, da mecanização, da rápida passagem das manufaturas às primeiras fábricas, da substituição do tear manual pelo tear mecânico. As novas tecnologias introduzem, como nunca, a possibilidade do trabalho em série, e requerem novos tipos de trabalhadores a serem explorados por novos tipos de patrões. A primeira revolução industrial traz consigo seu nível científico correspondente: o das descobertas de Isaac Newton (1643-1727) acerca da lei da gravitação universal e das leis do movimento. Além disso, o entendimento em nível maior de precisão acerca das leis da termodinâmica, que se dá no decurso do século XIX, mas que já vinha sendo intuído desde o século anterior, passa a habilitar os cientistas e engenheiros a compreender e mesmo quantificar as trocas de energia, inclusive no que se refere às possibilidades de conversão de energia térmica em energia mecânica. O domínio intelectual destas forças e elementos da natureza – a força da gravidade, o movimento e a energia térmica – proporcionará toda uma sorte de novas invenções aptas a explorar o trabalho mecanizado e desenvolver novas possibilidades de transporte.
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Conforme veremos a seguir, o complemento deste primeiro movimento da Era Industrial viria em seguida, em uma nova fase, com a compreensão e domínio de outras forças físicas (em particular a eletricidade). Também aqui devemos visualizar estes dois movimentos da Revolução Industrial como superpostos polifonicamente. O primeiro movimento da Revolução Industrial não se interrompe quando se inicia o segundo. Podemos dar o exemplo dos automóveis. Um automóvel moderno, por exemplo, baseia-se em um motor de combustão interna. Este tipo de motor pode ser compreendido como uma das muitas máquinas térmicas, capazes de transformar a energia proveniente de uma reação química em energia mecânica. Toda a variedade de transportes que utilizam os vários tipos de combustíveis – e o petróleo será apenas um deles – é tributária da conquista termodinâmica proporcionada pela primeira revolução industrial. Não obstante, os primeiros automóveis de combustão interna a gasolina surgem no último quartel do século XIX (portanto na mesma época em que já adentramos a segunda revolução industrial, ou o segundo movimento da Revolução Industrial, tal como propomos). De todo modo, a novidade do domínio da energia térmica – e sua conversão em energia mecânica – é claramente da alçada da primeira revolução industrial. Ou seja, as linhas tecnológicas inauguradas pelo primeiro movimento da Era Industrial continuam a se desenvolver, produzindo novas invenções e conquistas tecnológicas, inclusive depois que ocorre o segundo feixe de inovações tecnológicas que já caracteriza a segunda revolução industrial (a revolução elétrica, por assim dizer). Entre as heranças da revolução termomecânica estão as várias linhagens de transportes movidos à propulsão química.
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A segunda revolução industrial, complementando a revolução mecânica e termodinâmica trazida pela compreensão da gravidade e pelo domínio das leis do movimento e da energia térmica, é a revolução da eletricidade. O seu componente intelectual pode ser tipificado pelas leis de Maxwell, que demonstram pela primeira vez que a força magnética e a força elétrica são na verdade uma coisa só: a força eletromagnética. Com as invenções decorrentes deste novo estágio da compreensão das forças físicas, o mundo se eletrifica. As cidades se iluminam, não mais com chamas de lampião, mas com luz elétrica. Em breve o cenário da sociedade industrial será invadido pelo rádio, pelos meios de reprodução fonográfica, televisão, aparelhos de telefone, eletrodomésticos de todo tipo. Não tardará a surgir o próprio computador eletrônico – invenção que se torna possível a partir da revolução elétrica da sociedade industrial, mas que logo ocupará o lugar de um dispositivo central para a futura Revolução Digital”.
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[BARROS, José D’Assunção (org.). História Digital. Petrópolis: Editora Vozes, 2022. p.20-11].