⁠O Estelionato Eleitoral da Nova... Wesley De Lima Caetano

⁠O Estelionato Eleitoral da Nova Gestão em Natal: O Esfacelamento de uma Base de Apoio Por Wesley Caetano – Cientista Político e Gestor Público. A transição de ... Frase de Wesley De Lima Caetano.

⁠O Estelionato Eleitoral da Nova Gestão em Natal: O Esfacelamento de uma Base de Apoio

Por Wesley Caetano – Cientista Político e Gestor Público.

A transição de poder em Natal, com a posse de Paulinho Freire, representa não apenas a continuidade de um projeto político herdado da administração Álvaro Dias, mas também um caso emblemático do esvaziamento de compromissos assumidos no calor da disputa eleitoral. O fenômeno que se desenha, com o abandono de secretários, diretores, chefes de setor e adjuntos que foram peças-chave na eleição, evidencia um estelionato eleitoral interno, onde aqueles que apostaram no projeto e se desgastaram por ele são agora descartados em prol de uma governabilidade pautada pelo pragmatismo extremo.

A Máquina Administrativa a Serviço da Campanha

O pleito de 2024 em Natal teve uma peculiaridade: a utilização explícita e intensa da estrutura administrativa municipal em prol da eleição de Paulinho Freire. Isso envolveu desde mobilizações internas de secretários até práticas que hoje são objeto de investigação pelo Ministério Público. A máquina pública não apenas garantiu a eleição do candidato governista, mas fez isso à custa do comprometimento de gestores e técnicos, muitos dos quais foram levados ao limite de suas funções, extrapolando, em alguns casos, as linhas da legalidade.

Não foi apenas um esforço de campanha, mas um verdadeiro empenho de parte do funcionalismo de alto escalão para assegurar a vitória. Secretários, diretores e adjuntos participaram ativamente da articulação política, assumiram riscos, intervieram nos bastidores, promoveram alinhamentos e, em algumas situações, expuseram-se a práticas questionáveis. Esse processo gerou fissuras que agora se aprofundam na gestão Paulinho Freire, pois, passada a eleição, a realidade do poder se impõe: há mais aliados para contemplar do que cargos disponíveis para distribuir.

O Grande Cinturão de Alianças e o Colapso dos Compromissos

A vitória de Paulinho Freire só foi possível por um robusto cinturão de alianças, englobando grupos políticos diversos e até contraditórios entre si. Esse pragmatismo eleitoral, necessário para garantir a margem de segurança contra Carlos Eduardo, criou uma armadilha inevitável: a incapacidade de acomodar todos os interesses na estrutura administrativa.

Ao assumir a gestão, a administração Paulinho Freire se viu obrigada a priorizar certos segmentos da aliança, deixando para trás aqueles que estiveram na linha de frente, mas que não possuem representatividade política que justifique sua permanência no governo. Dessa forma, secretários que lideraram a campanha, diretores que mantiveram o funcionamento da máquina pública enquanto seus superiores estavam envolvidos na disputa, e adjuntos que garantiram o cumprimento das diretrizes políticas foram, ironicamente, os primeiros a serem descartados.

Esse fenômeno não é novo na política, mas o nível de desmobilização e frustração entre os ex-integrantes da administração Álvaro Dias tem sido atípico. O grupo que ajudou a consolidar a vitória esperava, no mínimo, ser reconhecido com a manutenção de seus postos ou com realocações estratégicas. No entanto, a nova gestão parece ter adotado uma lógica fria de exclusão, priorizando a governabilidade na Câmara Municipal e o atendimento aos compromissos feitos com a base política mais influente.

Uma Gestão que Começa Abalada

A ausência de comunicação interna, a falta de espaços de diálogo e o distanciamento da nova administração em relação a seus antigos operadores políticos geram um vácuo perigoso. Os ressentimentos acumulados entre os ex-secretários, adjuntos e diretores podem resultar em um efeito cascata de desgaste político para Paulinho Freire.

O novo prefeito inicia sua gestão não apenas sob o olhar atento da sociedade, mas também com um grupo expressivo de ex-aliados que se sentem traídos e desmobilizados. Isso pode se traduzir em críticas internas, vazamentos de informações comprometedoras e até mesmo na perda de apoio dentro da própria máquina administrativa. Afinal, muitos dos que foram afastados ainda detêm influência sobre setores estratégicos da burocracia municipal e podem atuar, ainda que indiretamente, na fragilização da governabilidade do novo governo.

Conclusão: O Custo da Política de Descarte

O caso de Natal é um exemplo clássico do que ocorre quando a busca pela vitória eleitoral se sobrepõe à construção de uma base de sustentação coerente e duradoura. A administração Paulinho Freire já começa enfraquecida, não apenas pela herança das investigações sobre abuso de poder econômico e assédio eleitoral, mas também pelo sentimento de traição que permeia os bastidores do governo.

O futuro da nova gestão dependerá de sua capacidade de recompor laços internos, administrar insatisfações e, sobretudo, evitar que o ressentimento dos descartados se transforme em um fator de instabilidade. Caso contrário, a administração que se inicia já carrega em si os germes de sua própria crise.