simbionte; enterrado sob minha pele,... Vinicius Rodrigues
simbionte;
enterrado sob minha pele,
reside uma inquietude,
e sobre ela, mora você.
escondida dentro de mim,
me coçando para te tirar,
rasgar minha pele,
deixar você sair.
se alimente de mim:
da fuligem em meus pulmões,
do eco de quem fui,
daquilo que ainda há de pulsar
em meu peito vazio.
e mesmo sentindo você rastejar,
quero que fique.
prefiro um parasita de amor
a encarar que, sem ti, sou oco –
abismo, vazio,
somente sombras de mim.
então, devore aquilo que ainda bate,
sorva-se do meu silêncio,
engula meus sonhos,
coma as migalhas da minha felicidade.
simbiotismo parasitário:
andando em círculos,
consumindo pedaços de mim,
já sem lembrança de forma,
sem saber existir sem órgãos,
sem ti.
mergulhe nas profundezas de minhas entranhas,
e ao devorar o que fui,
refaça-me à tua imagem,
para que eu, ao menos, sobreviva em ti.
e ao fim,
quando eu não for mais que casca,
quando nem vísceras restarem,
que sobre apenas
o eco de tua fome.