⁠ Clara nasceu numa aldeia onde o céu... Rilei Leite

⁠ Clara nasceu numa aldeia onde o céu era sempre azul. Lá, o vento soprava suave, a chuva caía mansa, e nunca se ouviu o eco de um trovão. O frio não cortava, o... Frase de Rilei Leite.


Clara nasceu numa aldeia onde o céu era sempre azul. Lá, o vento soprava suave, a chuva caía mansa, e nunca se ouviu o eco de um trovão. O frio não cortava, os relâmpagos não riscavam o firmamento, e a noite chegava sempre tranquila, sem ameaças.
Por isso, quando visitou um vilarejo distante e viu o céu escurecer pela primeira vez, sentiu o coração apertar. Os primeiros estrondos pareciam rugidos de feras invisíveis, e os relâmpagos arriscavam o horizonte como garras luminosas. Enquanto todos ao redor admiravam a dança dos relâmpagos, Clara se encolhia, aterrorizada.
Até que, um dia, uma tempestade a surpreendeu longe de casa. Sem refúgio, sem o céu azul de sua aldeia para observar-la, ela decidiu enfrentar o medo. Com a voz trêmula, os olhos às nuvens e singularmente: "Por que me perseguem?"
Para sua surpresa, os trovões responderam, não com um rugido ameaçador, mas com uma voz grave e antiga: "Não temas nossa voz, pequena. Somos mensageiros, não inimigos."
Intrigada, Clara começou a escutar. Descobriu que os trovões não eram ameaças, mas avisos. Aprendeu a decifrar seus sinais: um trovão breve fez calmaria, três seguidos anunciaram tempestades. O que antes era apenas medo de se transformar em compreensão.
Quando voltou para casa, Clara trouxe consigo um novo conhecimento. Sua aldeia, acostumada ao eterno azul do céu, passou a ouvir histórias sobre as tempestades. E, quando um dia as nuvens escuras finalmente chegaram à terra, Clara se apresentou diante delas e sugeriu uma canção suave. Os trovões, confirmando sua coragem, ecoaram em toneladas mais brandas, anunciando a chegada da chuva sem medo, apenas respeito.
Desde então, sua aldeia não teme os trovões — escuta. E Clara, a menina que veio do céu sempre azul, tornou-se guardiã entre a terra e o céu, lembrando a todos que o desconhecido, quando compreendido, transforma-se em poder.