O Amor que Não Vingou Havia uma... Ariana Manzoni
O Amor que Não Vingou
Havia uma promessa em cada gesto,
uma semente de eternidade
plantada na distração dos dias.
Uma certeza muda,
que murmurava “será”,
e, no peito, o eco respondia “quem sabe”.
Ele veio como um presságio de primavera,
mas trazia no olhar
um rastro de outono.
Eu, cega de esperança,
pendurei flores no varal da alma,
esperando que secassem ao sol
e se transformassem em pétalas eternas.
Mas cada pétala escorregou por entre os dedos,
como se o amor fosse
uma água impossível de segurar.
O que restou?
Rascunhos de promessas
e o silêncio,
que nunca pediu perdão.
Tentei resgatar o brilho
que imaginei ter visto,
mas era um brilho que existia
mais em mim do que no outro.
Então descobri que a decepção
nasce das sementes que regamos
com sonhos maiores que a realidade.
Fiquei diante do vazio.
Percebi que o vazio
também é espaço
para a gente se preencher do que é nosso.
Aos poucos, entendi que esse amor
não cabia nas mãos,
e talvez não coubesse em nenhum outro lugar.
No fim, sobrou a lembrança
de um quase,
e, no entanto,
ela se deitou em mim
como uma certeza daquilo
que não foi.
Aprendi que, às vezes,
o que não se cumpre
deixa em nós uma força adormecida
— que um dia acorda renovada, feita do que realmente é.
Ariana Manzoni