"O que é conhecer? Esta... Sidney Silveira
"O que é conhecer? Esta pergunta aparentemente simplória abarca intrincados problemas filosóficos ante os quais grandes pensadores, ao longo da história humana, acabaram por cair em aporias, ou seja, em engrenagens dialéticas a partir das quais nenhuma resposta pode ser satisfatória.
Com exceções não identificáveis percentualmente, as pessoas que nesta pós-modernidade se dizem a favor da ciência – querendo com isto demarcar uma posição política, ou que elas imaginam ser política – não têm a menor idéia do que seja a ciência, e de como esta caminha no compasso da resolução de problemas que não se restringem a experimentos de laboratório, pois pertencem a um grau de abstração da matéria que está acima inclusive do alcançado pelas matemáticas.
Qual é a diferença entre meio e modo de conhecer? O que é propriamente interpretar um dado da realidade? E mais: o que é a realidade? O que é ser e qual é a relação entre ser e conhecer? Qual o estatuto epistêmico da certeza em ciências que lidam com graus de indeterminabilidade radicados na matéria enquanto potência para assumir novas formas?
Trata-se de rãs saltitantes no brejo do comodismo. Que comodismo? O de aderir, com afetação de certeza, a narrativas que se amoldam à sua ignorância. Daí a facilidade com que respondem, por reflexo condicionado, a frases feitas ou palavras de ordem que lhes dão uma vertigem que não é a do êxtase do sábio perante sublimes verdades descobertas, mas a do doidão que fumou algo capaz de o conduzir ao Monte Everest da ebriedade.
Dizia Santo Tomás que Deus não conhece as coisas nelas mesmas ("in se ipsis") mas em Si mesmo ("in se ipso"), como causa suprema de todas elas. Essas criaturas agem como se fossem o próprio Deus, pois suas certezas não dependem do ser das coisas. Se investigarmos, veremos que, em muitos casos, dependem do noticiário; ou do que lhes dita a imaginação dominada pelo medo; ou da paixão política que feriu de morte suas inteligências.
Enfim, uma coisa é a pessoa tomar partido de acordo com os critérios – certos ou errados – que a consciência lhe subministra. Outra coisa é decidir por acreditar ser a favor da ciência, e ainda encher a boca para dizer-se tal".