2024 Trezentos e sessenta e seis dias... Michelle Ramos
2024
Trezentos e sessenta e seis dias que me mostraram diversas percepções de tempo: alguns dias duravam horas, em outros couberam meses nas mesmas 24. Um ano incomum, que me tirou do centro por alguns longos meses e me obrigou a sentir como é estar fora do controle. Aquele controle que por tantos anos foi a minha base, o meu pilar: o controle das coisas, das situações, do corpo, de si. Aquele controle que, na nossa mais humilde ignorância, a gente acha impossível perder, porque é sempre cômodo pensar que “não temos tempo pra adoecer”.
E como é pesado e confuso receber a visita inesperada da realidade que entra arrombando a porta da alma com os dois pés, em um dia qualquer, sem perguntar se temos tempo pra isso.
Perder o controle é ter vários dias que parecem nunca terminar, é saber que você daria TUDO pra encontrar ele novamente. É sentir que, mesmo se tendo tudo, não se tem mais nada.
Perder o controle é um desastre, mas perder o controle de si é um abismo infinito indescritível. Foi a pior experiência que vivi em 2024 e retomar esse controle foi a maior constatação de vida e presença divina que eu poderia sentir nele.
Um ano que me mostrou mais uma vez como é virar pó e depois asas. Como é ser nada e depois tudo, e vice-versa.
E foi navegando nesse dois mil e vinte e quatro que não morri no mar, que tive oxigênio suficiente, abbastanzza (nem mais, nem menos) e finalmente cheguei na praia. E quando cheguei, apesar de imensamente cansada, pude sentir nos pés aquela areia branquinha, que estava quentinha pelo pôr do sol incrível que pude contemplar. Olhei para o lado e ali estavam as pessoas com quem sempre estive, mas que só no temporal vivi o privilégio de tê-las a fundo, como família.
2024, um ano que me fez entender da forma mais literal possível que, sim, tudo passa. Até a uva.
E por falar em uva, acredita que já passou também o Natal? Chegou o fim de um mês que nunca chegava, de um ano incomum, bissexto, com um dia a mais, que poderia caber uma vida inteira, ou muitas delas — como coube.
Um ano que, se eu pudesse escolher, eu nunca iria querer que ele tivesse existido. E por entender o quão valioso e importante na minha história foi este ano é que o termino muito grata por saber que escolher quais anos viver, sendo bons ou ruins, também não é uma escolha. E também não está no meu, nem no seu controle. E que bom que a gente não escolhe. Que bom que o controle se perde e se acha. Porque, da forma mais dolorosa e bonita possível, este ano valeu a pena. Obrigada por tanto!