"Quando a saúde fragiliza-se os... Sidney Silveira
"Quando a saúde fragiliza-se os problemas mundanos relativizam-se, estando o intelecto mais livre para hierarquizar a realidade e voltar-se às coisas que realmente importam, dando a cada uma o seu real peso e valor.
"Vanitas vanitatum et omnia vanitas", diz o Eclesiastes.
Esta máxima não pode ser compreendida em sua dimensão espiritual por quem está engolfado nas coisas do mundo, por quem tem o coração turbado com relação ao presente, porque a vontade oscila demasiado em suas intenções, e inquieto com relação ao futuro, porque a imaginação vagueia na concepção de possibilidades sem fim.
A vontade de quem sofreu pouco – ou sofreu mal, por doentia incapacidade de resignar-se – ainda não foi provada, e até que o seja será impossível aquilatar se é forte e magnânima ou fraca e pusilânime.
Quem padece de uma doença crônica relativamente grave sempre encontra ocasiões para triturar as vontadezinhas medíocres, as veleidades, os pensamentos inócuos, como também para curar-se de medos infundados e aspirações sem sentido. Alguns perdem esta chance preciosa e caminham para o extremo oposto: em vez de se libertarem de suas próprias limitações, purgando-se na dor, tornam-se escravos delas, ao mantê-las em meio à busca de placebos irrazoáveis mitigadores do sofrimento.
O sofrimento ou purifica o homem, para que ame, ou o atiça, para que odeie".