Eu já sabia que eu iria embora. Não... Edgard Abbehusen
Eu já sabia que eu iria embora. Não foi hoje, quando arrumei minhas malas, disse que estava cansada e não olhei para trás. Meu “adeus” começou muito antes, nos silêncios que você não escutou, nos gritos dentro de mim. Eu cansei aos poucos, como quem se cansa de lutar por algo que só existia em minha insistência.
Cansei no dia em que me senti invisível ao seu lado, quando você estava lá, mas ao mesmo tempo tão longe. Cansei do espaço vazio e do seu silêncio entre nossas conversas. Eu tentei, acredite, tentei tanto que perdi partes de mim nessa tentativa.
Eu gritei com o olhar, com as mãos. E quanto mais eu tentava, mais me afastava de quem eu era. Fui me despindo de esperanças, lavando as mãos, como quem aceita o inevitável. E, quando finalmente fui, não havia mais lágrimas. Você as levou todas, sem sequer perceber.
Hoje, ao cruzar a porta, eu não sou mais a mesma. A mulher que ficou para trás morreu em cada tentativa frustrada, em cada gesto ignorado, em cada dia que você escolheu não me ver. A mulher que saiu é outra: mais forte, mais decidida, e ainda assim, carregando marcas que não desaparecem tão fácil.
Não diga que foi de repente. Não me chame de fria. Minha frieza é reflexo do gelo que você plantou entre nós. Fui embora porque não havia mais o que ficar. E se hoje você sente esse vazio, saiba que eu vivi nesse mesmo vazio por tanto tempo que ele se tornou insuportável.
Eu fui embora porque era a única escolha que você me deixou. Fui embora com o que sobrou de mim, mas não sem carregar o aprendizado. Eu aprendi que não adianta gritar para quem se recusa a ouvir. E aprendi, sobretudo, que nunca mais me deixarei esquecer por alguém.
Agora sigo. Não para longe de você, mas para perto de mim.