Tese 1 - Deus est, quia necesse est.... Bruno Resende Ramos
Tese
1 - Deus est, quia necesse est.
A - Prova da necessidade.
É necessário, porque sempre o foi. Um homem primitivo munido de demandas constantes à sobrevivência sabia-se vulnerável às grandes forças do universo. Vulcões, tempestades, inundações, seca, escassez de alimento, feras dantescas, monstros devoradores, doenças, acidentes. A sua vulnerabilidade demandava recursos além da sua condição natural, estatura e inteligência primitivas.
Foi o homem primitivo que acessou o grande download da transcedência ao se ver margeado pelo sofrimento, pela angústia, pela dor, pelo pavor e pelo desespero.
Iluminou-se de certezas, inspirações, verdadeiros saltos mentais e viu sempre os céus, o sol, os luminares, vultos, imanescências da alma acompanhá-lo nessas ocasiões. As aparições, experiências extra-sensoriais, lembravam sempre alguém ou algo familiar.
Descobertas arqueológicas revelam que nossos antepassados guardavam em lugar separado como sagrado em cavernas e protegidos os restos mortais de seus entes queridos, acreditando, intuitivamente, na continuidade de suas vidas.
Distantes uns dos outros, em diversos continentes, os seres humanos erigiram templos, altares, cultuavam divindades e lhes faziam sacrifícios. De Adão à dinastia inca, o homem se provou carente de um líder, um guia, um protetor, uma divindade.
O homem nasce com a necessidade de um estado de completude à sua existência.
No mais básico, existe o homem como a sede e a capacidade de saciá-la e os elementos pré-existentes e coexistentes para isso como a água.
Existe o homem como a fome e capacidade de saciá-la e elementos pré-existentes e coexistentes a si como o alimento.
Existe o homem com a carência de afetos e a capacidade de saciá-la e os elementos pré e coexistentes para isso como a mulher, a mãe, a família e os amigos.
Existe o homem como o desejo insaciável pela vida e pelo encontro com a sua essência, bem como com o sentido de ser e existir. Há um desejo inerente a si, de se eternizar e resistir à morte a qualquer preço. Contra essa, luta desde o primeiro instante de vida. No espermatozoide, num gameta, num feto, luta-se para continuar vivo.
Existe portanto na pré-existência humana algo que lhe permita permanecer e saciar a sua sede de eternidade, porque o homem não pode desejar o que não existe. Deseja o que está ausente de si. Desde sua concepção foi, institivamente, programado para nascer, crescer e viver num impulso de continuidade constante e toda criatura como tudo que existe se transforma.
Assim como no mundo observável nada de fato deixa de existir. Não se vê a matéria, mas lá está. Se divide, subdivide, mas não se extingue o átomo.
Logo, tudo que é, justamente por ser como tal, permanece ainda que em outro estado.
A fome de um pão, após comê-lo, passa.
A fome de viver, quando ainda se vive, não, porque ser é permanecer, encher-se do sentido de existência, encher-se de vida ininterruptamente.
Temos, de fato, fome de continuidade... de eternidade.
Para saciá-la, há, portanto, condições pré e coexistentes ao homem... chamem-no Deus, messias ou religião.
A eternidade em algum lugar está e pode ser acessada.
"PORQUE NELE E POR ELE, PARA ELE SÃO TODAS AS COISAS."
B - Pelo repúdio programado de todo ser existente ao perigo, à ameaça a sua integridade e vida.
Todo ser, racional ou não; ainda mesmo, na forma mais elementar, é programado para se defender e repudiar toda ameaça à sua integridade.
De tal modo que a morte é para si um objeto estranho à sua realidade, um defeito na programação da existência. Se não fosse assim, também os animais e todas as criaturas não evoluiriam criando defesas, estruturas complexas (carapaças, espinhos, odores, cores chamativas, sons ameaçadores, gestos que buscam aumentar sua estatura, velocidade, saltos, estratégias, construções de abrigos) para se materem vivas.
Toda essa engenharia, essa performance, comprova a vocação da vida à continuidade e à pernanência.
Existe a vida e o inimigo da vida.
Uma inteligência contida no nosso DNA e na esfera inconsciente de todas as criaturas as muniu de defesas e estratégias para vencer o combate contra esse mal.
Não há coincidência nisso, mas uma clara evidência de que o que fez a um, com os mesmos traços de mentalidade, bondade, compaixão, inteligência e criatividade fez a outros.
Existe na semelhança entre as criaturas certamente um autor comum.
Existe na complementariedade entre elas, uma inteligência para unir seres e espéries diferentes de modo cooperativo como da flor que para existir e permanecer necessita de polinizadores como passarinhos e abelhas. Existe nesta complementariedade tão complexa um sentido de resistência, solidariedade e uma inteligência organizadora que opera tudo em todos.
Nada é por acaso, porque seriam, repetidamente, milhares e milhões de acasos e coincidências num dos poucos planetas onde existe a vida.
E essa foi semeada, com toda sua complexidade, por algo maior que o homem, pois sabemos que esse não seria capaz de tal feito.
Essa inteligência nos privilegiou com uma capacidade de entendimento que lhe é própria, por isso podemos contemplar o vestígio de Sua existência. Para o homem honesto, que não nega as provas, Ele existe e somos como tudo ao redor Sua obra.
C - O que resulta no ser a certeza da eternidade?
O homem, em toda sua complexidade, demonstra os estados de menos ansiedade, medo, angústia e mais segurança, esperança, alegria e confiança quando encontra um sentido à vida, um caminho na fé e a certeza do encontro da razão da sua existência no mundo. Nesse momento, crê e por isso encontra nos estabelecimentos da fé o que julga ser a garantia da eternidade.
D - O que vive antes de nós, dentro de nós e o que nos comunica?
Existe um proponente, um código na estrutura do ser que o impele à existência e a busca da permanencia. Toda criatura ou ser, inconscientemente, atende a esse chamado: o chamado a existir, a lutar para viver e sobreviver.
Mesmo dormindo, o corpo respira, o coração bate, as células se renovam, os glóbulos brancos e as células macrofagas trabalham incessantemente para que o ser sobreviva.
Somos mantidos vivos por uma ordem, um desejo, uma vontade, um cuidado, uma decisão que nem é nossa: É anterior a nós.
Quem decidiu, quando o corpo ainda se formava, que todas as células trabalhassem e se multiplicassem? Que trabalhassem de forma autônoma, harmônica e colaborativamente?
Toda essa construção complexa e inteligente que trabalhava quando nem tínhamos a consciência de ser não poderia criar a si própria sem um programador.
Existe uma programação; logo existe um programador.
Ele existe além de mim. É o feitor, o oleiro ou o programador.
Ele, criador de todo ser, é sobre ele, antes dele. Que tal darmos um nome a Ele?
Chama-no "A causa das causas", porque todo esse movimento da existência começou em algum momento com o impulso de algo, de uma "causa".
Aceito sugestões, mas eu o chamo Deus.
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Conceição da Barra, 26 de novembro de 2024