⁠Poderíamos, porventura, ser... Marcus Silva Menezes

⁠Poderíamos, porventura, ser comparados a uma moeda, portadora de facetas aparentemente irreconciliáveis? De um lado, a manifestação de um discernimento profund... Frase de Marcus Silva Menezes.

⁠Poderíamos, porventura, ser comparados a uma moeda, portadora de facetas aparentemente irreconciliáveis? De um lado, a manifestação de um discernimento profundo, a acuidade da análise, a capacidade de forjar opiniões e um anseio insaciável por desvendar os mistérios do cosmos, da vida, da morte, do tempo. Uma sede de conhecimento tão vasta que, por vezes, vislumbra a eternidade, a sensação de que a existência finita mal arranha a superfície do que há a compreender.
Contudo, na face oposta, reside uma aparente antítese: uma total ineptidão prática, a incapacidade radical de assegurar os meios mais elementares de sobrevivência material em um mundo que, ironicamente, se move sob a égide do pecuniário. Uma irracionalidade que não reside na lógica do pensamento, mas na inabilidade de navegar a realidade mundana.
Seria plausível que tamanhos extremos coexistam em uma única individualidade? Parece que, enquanto uma face da moeda pulsa com a vontade de perscrutar o infinito, a outra se confronta com a pura dificuldade de "ser" na contemporaneidade. Talvez, neste contexto, a própria moeda se revele menos uma dualidade e mais um abismo, um buraco negro de ineficácia existencial face às demandas do agora.
Talvez, a única saída para a insuportável tensão deste paradoxo seja permitir que a moeda, como um buraco negro existencial, se retraia, implodindo em seu lado mais sombrio e melancólico. Quiçá, apenas assim, dissolvendo-se na própria incapacidade, este conflito inerente possa, enfim, cessar de existir.