opium poético abre espaço pro... Vinícius Rodrigues

opium poético
abre espaço
pro entorpecimento.
confusão — coração
lasso.
a sensação
do esgomanto
se esvai
em um abraço.
o traço, o laço
que nos unia
desaparece
num retrato
opaco.
letargia.
silêncio, dormência,
espaço.
a melodia da monotonia
encontra a nostalgia da poesia —
até que o osso
aranha o verso,
e a brisa da inércia
cessa, suspende,
sufoca a essência,
e despe a alma
com delicadeza adversa.
a sensação do cansaço
encontra, enfim, na cama,
um abraço.
alquimia
do corpo.
torpor —
o pedaço
da alma
no travesseiro.
e o universo
mergulha
em lento
esquecimento,
inteiro.
escrevo nos versos,
brincando de médico,
enquanto esbagaço
o pedaço
da harmonia
que encontra poesia —
e juntos
formam magia
(em suave contraste)
com a agonia.
minha simpatia
desencontra a euforia,
minha alegria
vira utopia
(sonhando acordado)
com a calmaria —
como se, em alquimia,
essa anestesia
tecesse
uma sinfonia
que se perde
em fantasia,
e o tormento
morre
injetado
entre sílabas
e silêncios
dourados.
euforia sussurrada
em versos brandos,
a morfina das metáforas,
delírios brancos.
néctar, veneno,
remédio insano,
êxtase brando
de um sonho arcano.
arpejo mental,
torpor visceral,
perfuração metafísica —
dança letal,
remédio e veneno
num ciclo final.
abre espaço
para o vazio.
silêncio —
o coração
pousa.
a vertigem
desfaz-se
em névoa.
o que nos unia
é agora
sombra
no espelho.
a melodia da monotonia
encontra o eco da poesia —
o osso alonga-se
em verso puro,
a brisa despe
sua aspereza.
o cansaço
encontra repouso
no colchão de nuvens.
alquimia:
o corpo dissolve-se
em torpor.
o universo
é um travesseiro
de esquecimento.
escrevo versos
como quem afia
pétalas.
a harmonia
é um cristal
entre os dedos —
frágil
e infinito.
minha alegria
é um lago
onde a lua
bebe seu reflexo.
a calmaria
tece
sinfonias
de ar
e luz.
euforia
sussurrada
em consoantes
líquidas.
a poesia
é o néctar
que nunca
intoxica.
arpejo mental —
o torpor
é uma asa
aberta.
dança pura
entre remédio
e perfume.