Lembranças Em Timbó, onde o sol... Gabriel Luiz maroli

Lembranças
Em Timbó, onde o sol beija a colina,
Há sombras longas, de estranha sina.
Certos homens, fantasmas na memória,
Seus feitos ecoam, sem ter mais história.
Nunca morreram, em lendas suspensas,
Seus nomes sussurram, em bocas tensas.
Heróis de outrora, em bronze eternizados,
Mas seus corações, jamais foram amados.
Viveram de glória, de feitos marcantes,
Em livros de história, figuras gigantes.
Porém, a doçura de um toque suave,
O calor de um lar, a alegria que move,
Jamais sentiram, presos à missão,
Às frias armaduras da ambição.
Seus olhos não viram a flor que desabrocha,
Nem a simples beleza que a vida nos troca.
Assim, pairam sempre, em nosso pensar,
Modelos distantes, sem poder tocar.
Certos homens nunca morrem, é verdade,
Mas em sua eterna fama, falta a humanidade.
E há outros, vagando em meio à multidão,
Com almas silentes, sem ter direção.
Nunca viveram, pois medo os consome,
A ousadia dorme, o instante não some.
Passam os dias, sem deixar um traço,
Seus sonhos murcham, num lento fracasso.
A voz embargada, o passo incerto,
A vida se esvai, num deserto aberto.
Não provam o vinho, nem sentem o abraço,
Seu mundo é pequeno, um eterno compasso
De rotinas vazias, de olhares fugazes,
Prisioneiros de si, em tristes miragens.
Então, a balança da vida nos mostra,
Que a imortalidade, às vezes, é a nossa
Maior solidão, um fardo pesado,
Se o viver de verdade, nos foi negado.
Pois de que vale a lembrança perpétua,
Se a jornada terrena foi sempre incompleta?
Melhor a vida breve, sentida e vivida,
Que a eterna existência, fria e esquecida.