⁠É uma alegria ler um poema, sim, mas... Felipe Alves de Souza

⁠É uma alegria ler um poema, sim, mas quem o lê com verdade sabe que por trás de cada verso há um abismo. O poeta canta porque não pode calar a dor; ri, porque não suporta chorar sempre. A sua alma criativa é um reflexo da crise, um espelho partido que devolve a luz em estilhaços de beleza. Que importa que o poema brilhe, se foi forjado nas trevas? Que importa que a palavra dance, se quem a escreveu mal se sustenta em pé? A obra é a fuga, o grito abafado, o sorriso que se desfaz no rosto antes de chegar aos olhos. Lemos e sentimos o êxtase da criação, mas esquecemos que o criador muitas vezes se consumia na chama que nos aquece. A arte é o suicídio adiado, o último suspiro antes do naufrágio. E, no entanto, quanta luz brota dessa escuridão! O poema é alegre porque a tristeza, quando pura, já não sabe nomear-se. E nós, leitores ingênuos, bebemos do veneno como se fosse mel, sem perceber que a doçura vem do mesmo fruto que envenenou o poeta. Mas não importa. A obra está acima do autor, e a beleza sobrevive ao caos que a gerou. Ler um poema é conversar com um fantasma que ainda não sabe que está morto, e, nesse diálogo, ambos, vivo e espectro, encontram uma paz que a vida lhes negou.