Sou lembrado? Não. Esquecido?... Gabriel Hayashida de Arruda

Sou lembrado? Não. Esquecido? Também não.
Sou o quase que a memória não guardou,
a palavra que, antes de dita, secou nos lábios
e foi cuspida com desdém.
Invisível? Menos que isso — sou o que nunca houve.
Nem verdade nem mentira: apenas o intervalo
entre dois pensamentos.
Sou apenas o que o vento arrasta, sem destino,
como um papel amassado que ninguém leu.
O mundo gira, e eu fico à janela,
vendo a luz do entardecer manchar as paredes.
O relógio passa por mim como por um móvel antigo —
ignora-me, e eu ignoro o seu passar.
Estou em toda parte como o nada está —
presente pela ausência,
visível pelo vazio que deixo.
Não me procurem, não me chamem — minha alma é tão leve
que, se um dia cair,
nem o pó se erguerá para recebê-la.