Encontrava-me no Hospital de Tambara... Graciela D. William

Encontrava-me no Hospital de Tambara 2, aguardando do lado de fora, quando uma enfermeira, com a voz carregada de rotina, questionou uma jovem: 'Quantos anos tens?' A resposta veio imediata: '18 anos.'
A enfermeira, sem hesitar, dirigiu a mesma pergunta a outra rapariga: 'E tu, quantos tens?' '15 anos,' respondeu ela.
A sequência repetiu-se: 'E tu, quantos tens?' '16 anos,' ouviu-se em resposta.
Mais uma vez, a enfermeira insistiu: 'E tu, quantos tens?' '17 anos,' respondeu uma rapariga.
Presenciei estas cenas com uma profunda mistura de tristeza e frustração, mas também com uma dolorosa compreensão. Estas jovens estão inseridas numa cultura que, infelizmente, ainda perpetua a ideia de que o destino da mulher se resume a casar cedo, cuidar do lar e trabalhar na machamba. A culpa não reside nelas, mas sim nas tradições arcaicas e numa sociedade que, por vezes, inadvertidamente, fomenta os casamentos prematuros.
Refleti sobre a árdua jornada que Moçambique enfrenta para alcançar o progresso. Como podemos avançar quando tantas crianças, provenientes de famílias de baixa renda, são forçadas a amadurecer precocemente?
E mesmo aqueles que conseguem prosseguir com os estudos, muitas vezes, deparam-se com a falta de oportunidades de emprego, restando-lhes apenas a venda de mangas como meio de subsistência.
Enquanto isso, nas cidades, os filhos das elites nascem com o futuro assegurado, independentemente dos seus méritos. Como podemos construir um futuro próspero para Moçambique quando o talento e a inteligência de jovens da classe média baixa são desperdiçados nas ruas, vendendo frutas, sem sequer terem acesso ao capital inicial para iniciar um negócio?
Acredito que a chave para a transformação de Moçambique reside na união entre os cidadãos de todas as classes sociais. Se os jovens da classe média baixa e os da cidade se unissem, poderíamos desvendar o potencial adormecido da nossa nação e construir um futuro mais justo e promissor para todos moçambicanos.