Um dia, ouvi alguém dizer:... Marcelo Correia
Um dia, ouvi alguém dizer: "Você só pode ajudar quem quer ser ajudado." E essa frase, tão despretensiosa, me fez pensar nas sutilezas da vida e nas complexidades do coração humano.
A gente, com toda a boa vontade do mundo, estende a mão, oferece um abraço, dá o conselho que parece certo. Mas a verdade é que nem sempre o outro está pronto para receber. Não é uma questão de egoísmo ou ingratidão, mas uma condição do próprio ser. Cada um de nós tem seu tempo, seu processo, suas feridas que precisam de tempo para cicatrizar.
Há momentos em que o coração do outro está fechado, não por falta de amor, mas por medo, por cansaço, por uma necessidade de se proteger. É como uma flor que, em pleno inverno, se recusa a desabrochar. E isso deve ser respeitado. A ajuda verdadeira não força, não impõe; ela espera pacientemente pelo momento certo, pelo sinal de abertura.
Ser humano é isso: é entender que nossa vontade de ajudar, por mais sincera que seja, só tem valor quando encontra eco no outro. É como oferecer um pedaço de pão; ele só mata a fome se o outro estiver disposto a comer. E há uma beleza sutil nesse entendimento, uma sabedoria que nos ensina a amar sem condições, a estar presente sem invadir.
Às vezes, a maior ajuda que podemos oferecer é simplesmente estar ao lado, em silêncio, segurando a mão e esperando. A presença é um bálsamo, um sinal de que, quando o outro estiver pronto, não estará sozinho. E isso, por si só, já é uma forma de amor.
Então, a gente aprende a reconhecer os sinais, a perceber quando é hora de agir e quando é hora de esperar. A vida tem seus ritmos, e cada pessoa tem o seu. Ajudar é também um ato de paciência e respeito, uma dança delicada entre a oferta e a aceitação.
Porque, no fundo, o que todos nós queremos é isso: ser compreendidos em nossos tempos e processos, amados em nossa imperfeição. E quando a ajuda vem desse lugar de amor e respeito, ela tem o poder de transformar, de curar. Porque, às vezes, a verdadeira ajuda é apenas estar ali, do jeito mais simples e humano possível.