Gato por lebre Sempre ficava nervoso... Hally
Gato por lebre
Sempre ficava nervoso quando o chamavam. Era evidente que não estava mais aguentando. Lolita. Tremia nervoso e atacava sem pestanejar. Retrucava ao carinho que vinha seguido do bendito nome. O afagavam chamando Lolita, ele arranhava. Ainda que adorasse o afago, metia a unha em qualquer um.
Quando o conheci, estranhei o fato de, ainda que meigo, parecer agressivo demais para a espécie costumeiramente amável. Reparei que parecia implorar para o chamarem pelo nome certo. Quando o chamava: "Vem cá Lolita linda, vem xaninha", usando aquela voz quase infantil, a mesma que usamos com os bebês, ele miava em sinal de descontentamento, como se estivesse reclamando.
Essa é a história do gato da minha filha, o, agora, Apolo. O conheci como Lolita quando fui visitá-la. Quando tentava afagar sua barriga,(ainda assim não percebi o membro que o qualifica macho), ele miava compulsivamente e fazia uma cara de quem estava implorando aos céus para o reconhecerem e pararem de o chamar por aquele bendito nome. Lolita. Coitado do Apolo.
Certo dia, as preces do Apolo foram ouvidas. Haviam programado uma castração para a Lolita, pelo menos ainda assim foi cadastrado ao chegar na clínica. Meu genro inocentemente, aguardava na recepção com mais uns 30 clientes, segundo o próprio narrou. Quando a enfermeira o chamou, o fitou nos olhos com uma cara de desdém e o perguntou se era ele o responsável. O coitado assumiu que sim e teve que ouvir a euforia geral da sala quando a enfermeira fez o anúncio surpreendente de que a Lolita era macho. Todos riram compulsivamente. Muito constrangido, ele percebeu que, no interior da sala, o agora reconhecidamente gato Apolo, tinha um brilho especial no olhar, como que agradecendo aos céus, e um sorriso de satisfação no rosto. Na cabeça do Apolo só passava: "Ufa! Agora você entendeu...Uhuuu!!! Até que fim!!!"
Na última vez que vi o Apolo, ele estava muito bem. Agora o chamei pelo nome que contempla sua machisse e ele adorou. Sei disso porque não esboçou nenhum ataque ou me arranhou ao carinha-lo. Ao comentar o fato do equívoco com minha filha, fazendo piada com ela e meu genro sobre o fato ocorrido, percebi a cara de escárnio dele como que rindo também. Agora, o Apolo segue firme com o peito estufado de satisfação. O bichano tira onda... Começou a namorar uma gata na rua que mora. Ela desconfiava da sua masculinidade e não queria ficar com um gato que se chamava Lolita. Está todo empolgado. Imagino o quanto ele deve rir dessa situação. Percebi isso ao vê-lo olhando para o casal que impeliam tal desfeita como que dizendo: bem feito!!