O Silêncio do Criador "No... Adrian Gomes
O Silêncio do Criador
"No início, quando o universo ainda era uma tela em branco, Deus pintou com traços de mistério. Ele sussurrou as leis da física, escondeu os segredos da matéria escura e lançou as estrelas no vasto éter. Mas, à medida que a ciência desvendava esses segredos, o quadro se tornou mais nítido, mais preto e branco.
Deus, se existe, é um artista que se recusa a assinar sua obra. Ele nos deu a inteligência para decifrar o código cósmico, mas também nos deixou com a angústia da incerteza. A fé, para mim, é como uma paleta de cores vazia. Alguns a preenchem com tons vibrantes de crença; outros, como eu, hesitam, misturando cinzas de dúvida e azuis de curiosidade.
O mundo, uma vez repleto de matizes, agora parece um daguerreótipo desbotado. A beleza está nas sutilezas: na curva de uma folha, na harmonia das equações, no sorriso de um estranho. Deus, se Ele está lá, não se manifesta em trovões ou milagres. Ele se esconde nas entrelinhas, nos espaços vazios entre os átomos.
Às vezes, olho para o céu noturno e imagino Deus como um astrônomo solitário, observando a dança das estrelas com olhos tristes. Ele conhece cada partícula, cada história, mas permanece em silêncio. Talvez seja porque, como eu, Ele também sente a melancolia da compreensão.
Então, eu continuo buscando. Não por respostas definitivas, mas por um vislumbre da mente divina. Talvez Deus esteja na pergunta, não na resposta. Talvez Ele seja o eco do Big Bang, o suspiro do infinito, a equação que nunca resolveremos completamente.
E assim, na minha agnosticidade, encontro uma espécie de fé. Não na certeza, mas na busca. Não na cor, mas na textura das perguntas não respondidas."