⁠Sussurros da Lapa Nas vielas escura,... Gustavo Gonsalves

⁠Sussurros da Lapa

Nas vielas escura, onde a noite geme,
Entre becos e sombras, meu canto semeio, rouxinol rejeitado.
Um Malandro sem alma
Um poeta sem nome,
Um boêmio sem herança, mais muita história pra contar.

Vi o Rio em festa, vi o Rio em guerra,
Vi a glória e a miséria, no meu complexo viver
Vi o samba nascer, vi o amor morrer,
Vi a vida pulsar, vi a morte a bater.

Oh minha lapa, onde meu corpo se esconde,
Na boêmia minha alma vagueia,

-Nunca roubei ninguém senhor, me deixe na cabeça de porco!

Sou a voz dos esquecidos, o canto dos humildes,
A melodia da noite, os acordes oprimidos

Vi políticos corruptos, vendendo a cidade,
Vi a elite opressora, se cegando a vaidade.
Vi o povo sofrendo, sem voz e sem pão,
Vi a injustiça reinar, o sangue escorrendo de vidas em vão...

Mas nem tudo é trevas, nesse meu triste cantar,
Há beleza escondida, em cada olhar que insiste.
O amor nas vielas, há esperança no ar,
Há a força da vida, que teima em brotar.

Sou o malandro da Lapa, o poeta da dor,
Testemunho a morte, em versos que correm.
Canto a realidade, nua e crua,
Para que ninguém esqueça, a dura verdade que sua.

A Lapa é meu berço, o Rio e meu lar,
Onde vivo e escrevo, com o coração profundo.
Sou parte da história, dessa cidade querida, tão sofrida, mais bela em tudo...