Busco, agora, uma pausa para um... Elizeth Cunha Valle
Busco, agora, uma pausa para um alento, uma esperança.
Quero crer que é possível a felicidade, ainda que passageira.
Olho para longe, até onde a vista alcança,
Procuro a alegria p'ra companheira.
Mas tantos montes, infinitas montanhas
Me anuviam a visão,
Criam ilusões, artimanhas,
De que ser feliz não é possível, não.
Mas eu, teimosa e arrogante
Fecho e abro os olhos repetidamente,
Buscando ver ainda mais adiante
Do que permite minha descrente mente.
Tento ver com a alma, esta guardiã,
Tão mais profunda que a mente,
Mas a busca parece ser vã,
Mas não desisto, oh, mente inclemente!
Aí procuro lá, bem no fundo da alma,
Nas lembranças da alegria de outrora,
Aquele sensação de paz, de calma,
Aquela consciência de que pra tudo tem uma hora.
Respiro fundo, ouço com atenção,
O som do vento, o cheiro da noite que chegou,
Tão piedosa, sem nenhum sermão,
Me acolhe assim, me recebe como sou.
Me enveredo por suas entranhas,
Me torno parte dela e, logo cedo,
Me misturo também ao dia, sem barganhas,
É isso, este é o enredo.
Percebo, então, que sou parte, não o todo,
Desta complexa existência.
Mas há beleza sim, sem engodo,
Em pertencer, sem ser toda a essência.
E neste argumento, enxergo finalmente
Que não posso mudar o imutável
Só posso me amoldar a ele, meramente,
Aconchegar-me, fazê-lo aceitável.
Então a esperança poderá renascer da humildade,
Da crença de que para nada servirá a tristeza,
De que, já que cheguei aqui nesta solenidade,
Vou fazer o meu discurso, com certeza.