Reticências Será que sou muito... Paolla Secundo
Reticências
Será que sou muito esperançosa?
Por esperar o inalcançável,
acreditar no impossível?
Ou apenas sou corajosa
ao sonhar com um futuro tangível?
Não entra na cabeça
a ideia de te perder,
de te ver com outra,
de deixar de te amar.
E pensar que, quando te tive,
não soube lidar.
Mas me entenda:
você foi tudo,
foi tanto
que transbordei.
Peço perdão pela última vez
pelo amor que desperdicei.
Agora, luto ao ver seu sorriso,
luto, pois ele já não é causado por mim.
Ainda insisto em nós,
pois ainda vejo algo em seu olhar,
algo que percebo desde a paixão.
E desde então,
as pessoas ao seu redor
vêm mudando,
e você se reinventando,
mas isso em ti permanece,
mantendo uma pequena brasa
que, pouco a pouco, nos aquece.
Insisto, pois sei que ainda existe algo,
algo profundo, não tão visível como antes.
Mas, se reparar um pouco demais,
como eu reparo,
notará que, mesmo com outro alguém ao seu lado,
nossa conexão permanece imutável.
Notará que o brilho em seu olhar sobre mim nunca deixou de existir.
Notará que não é infidelidade,
mas uma involuntária sensação de não querer partir.
Não nego:
ainda te amo,
ainda te espero.
Mas me calo.
Demonstro em sorrisos contidos,
em olhares desviados,
ocupando discretamente
teus espaços.
Se estivesse no meu lugar,
saberia como é fácil te amar.
Você torna a paixão simples,
a poesia inevitável.
É a perfeição humana,
vislumbrada
num instante raro,
que tive o privilégio de ver
sem qualquer amparo.
Falo de você para todos,
não como algo que passou,
mas como algo a se perpetuar,
pois acredito que não chegou ao fim.
Dizem que as mais belas histórias de amor têm um ponto final.
A nossa, porém,
teve sua pertinência.
E, ao invés de um ponto,
escolhemos
as mais honestas e dolorosas
reticências.