Às vezes, as coisas parecem nos... Emília Ferreira
Às vezes, as coisas parecem nos tocar como brisas, invisíveis e passageiras; mas há momentos em que, mesmo sem darmos permissão, elas invadem e se enraízam. Como o musgo que encontra a rocha e nela se fixa, assim é o que, em silêncio, se deixa afetar. Porque, no fundo, o segredo não está naquilo que desejamos ou não que nos atinja, mas no quanto de terreno fértil carregamos dentro de nós. A terra, por mais que queira, não escolhe as sementes que nela repousam. Só resta acolher, mesmo que o afeto e o efeito venham de onde não esperamos. As coisas nos afetam, talvez, porque estamos sempre com as portas entreabertas, porque, como espelhos d’água, não temos como evitar os reflexos que o mundo projeta em nós. No fim, a profundidade com que algo nos afeta revela mais sobre o espaço que guardamos em nosso íntimo do que sobre o peso desse algo em si. É a abertura do nosso coração e a receptividade de nossa alma que desenham o limite do que deixamos entrar.