⁠Amor com flores 🪷 Eu nunca vi... Viviane Cardoso

⁠Amor com flores 🪷 Eu nunca vi pessoalmente, nem senti o olor, nem toquei uma das flores que mais me encantam: a Nymphaea nouchali, ou a flor de lótus, símbolo ... Frase de Viviane Cardoso.

⁠Amor com flores 🪷
Eu nunca vi pessoalmente, nem senti o olor, nem toquei uma das flores que mais me encantam: a Nymphaea nouchali, ou a flor de lótus, símbolo budista de pureza espiritual. Apesar da beleza, como parte do seu ciclo natural, essa flor desabrocha em águas lodosas. Durante a noite, suas flores se fecham e submergem. Mas quando os raios solares incidem novamente, as pétalas se abrem e elas reaparecem. Dentro da espiritualidade, este percurso da lama à luz simboliza pureza, renovação e vida eterna.
Eu tenho duas tatuagens de flor de lótus e farei outras. A simbologia do renascimento e a delicadeza com que se comporta seu ciclo (a planta procura águas rasas para que suas raizes se fixem na lama, enquanto o caule permanece na água e as pétalas na superfície) são, para mim, fonte de inspiração e sabedoria.
Essa leveza de pairar sobre a água é a mesma que procuro nos relacionamentos… eu me vejo na flor de lótus, pois minhas raízes, embora estejam em águas cristalinas e límpidas, foram germinadas na lama, nas dificuldades que cercam a vida de quem é intenso e se importa demais. No Egito antigo, devido ao seu ciclo solar, a flor de lótus representa o nascimento e renascimento. Suas sementes podem ficar até 5 mil anos em estado de dormência até que se encontre em condições adequadas de umidade e temperatura pra germinar. Por isso ela também é sinônimo de longevidade. Eu amo a analogia da vida com o ciclo dessa flor… a beleza, a leveza, podem vir dos mais profundos lamaçais de dor e sofrimento pelos quais já tenhamos passado. Cria-se uma resistência, uma insistência em permanecer magnífica na superfície, em se mostrar à luz do sol, mesmo atrelada à lama! Quando se gosta de flores, o primeiro ímpeto é arrancá-las, embala-las num buquê, mantê-las num vaso… é diferente com a flor de lótus. A beleza dessa flor reside em deixá-la seguir seu ciclo, naturalmente. Do contrário, ela teima, não se abre, não sobressai sua magnificência de cores. Fora do seu habitat natural dura apenas 48 horas. Não, essa flor não serve aos desejos de noivas pra enfeitar buquês efêmeros, nem pra ornamentar lares em vasos. Ela serve à apreciação natural, em meio à calma e silêncio.
Depois de um tempo, eu percebi que há uma certa semelhança dos bons relacionamentos com a flor de lótus: prezam a longevidade em detrimento das efemeridades; aguardam pacientemente condições confortáveis para germinar, desabrochar e fincar suas raizes; embelezam a vida dos que sabem apreciar suas singularidades; perfumam os espaços…tornam-se raros e desejados.
Viver o amor tem de ser assim, com leveza e maturidade. Longevidade e calma… apreciando o que há de belo no outro e se mostrando à luz do sol, límpido e cristalino, ainda que toda quietude tenha sido construída no fundo de águas argilosas.
Todavia não ser apenas calmaria, mas como a sensação lúbrica que causa o perfume das flores, inebriar e conduzir ao amor lascivo e impetuoso.
Viver o equilíbrio entre mostrar-se e recolher-se, submergir e emergir das aflições com brilho e beleza, permanecer com naturalidade e simplicidade e ao mesmo tempo ser singular… amor com flores, é o cenário perfeito pra viver feliz.