Estresse. Estresse é algo tão comum... Mia Bennett

Estresse.

Estresse é algo tão comum entre a humanidade quanto imaginam. Nos estressamos todos os dias, pode ser com os pais, com os amigos, com o namorado, com um trabalho, até mesmo com si mesmo. Há variações de estresse. Há o estresse onde você deixa seu anel cair e o mesmo ir para debaixo de algum móvel, mas ainda consegue ser moderado. Há o estresse com os pais que vivem te cobrando algo que claramente não consegue e não quer. Há aquele pequeno estresse de quando deixa o celular cair no rosto porque está quase dormindo, e há aquele estresse que você perde o controle e sai quebrando tudo dentro de casa, até mesmo bate em sua mulher ou seus filhos.

Esse não é o meu caso.

Meu estresse parece ser diferente do estresse dos outros. Sempre muito intenso. Acho que aquela angústia que sinto tem uma pontada de culpa.

Sabe quando você está acumulando tanta coisa há tanto tempo? Quando você vai para escola e consegue ouvir as garotas murmurando ao seu respeito? Quando os garotos ficam te zoando o ano inteiro dizendo que você é feia? Quando você não fica de recuperação em matemática mas os outros sim e uma pessoa em específico fala para os outros que você tá dando para o professor? Quando você tenta ser gentil emprestando sua única caneta preta assim que pedem e na sua vez de pedir não recebe nada em troca além de julgamentos? Quando você chega em casa e vê seu pai e sua madrasta brigando por causa dos diversos vícios que ele tem? Quando você quer se enturmar naquele grupo de amigos em específico mas não sabe sobre o que eles falam e fica com medo de dizer algo estúpido?

Parece ser bobo, do cotidiano de qualquer adolescente, contudo, isso tudo vira um estresse excessivo. Um estresse que quando chega no seu dormitório ou na casa do seu pai, a única coisa que quer é simplesmente deitar e ficar quieta, aproveitando do silêncio ou da música que toca em seus fones. Só que vai chegar uma hora que esse estresse vai transbordar para todos os lados e ninguém mais vai segurar você.

Por enquanto, quando deito minha cabeça no travesseiro, as lágrimas são as únicas a se manifestarem. Penso no estresse diário, na angústia diária, e elas se libertam sem mais, nem menos. Encharcam a fronha do meu travesseiro e escorrem até minha boca, onde sinto nitidamente não apenas o gosto do sódio, mas a pólvora.

Ninguém me vê chorando. Ninguém apresta a atenção o suficiente em mim para ver que isso está virando um problema cada vez maior.

Preciso de um abraço, mas não quero pedir. Preciso conversar, mas não quero pedir. Preciso de companhia

E nunca quero pedir.

Sabe por quê? Porque vão dizer que quero atenção, e vão me confundir com aquelas garotas que inventam problemas e dizem que vão se matar.

Assim que eu abri meu armário, bem no final das aulas, todos os meus livros caíram, até mesmo o que estavam em meu braço. Talvez porque os coitados estivessem todos espremidos ali dentro e eu estivesse com duas mochilas, uma com minhas coisas esportivas e outra com os materiais. Só que isso não importa. A culpa não foram deles. Foram minha.

Eu sei que se não houvesse ninguém naquele corredor, com toda certeza eu estaria chorando de soluçar. Poderia ter feito algo para impedir, para não os deixarem cair, para não amassar as capas com cores vivas e neons e tudo virar preto e branco. Mas não. Sou uma inútil, que nem segurar os livros consegue. Sou a inútil que não consegue se equilibrar por estar com dois pedaços de pano nas costas. Sou inútil por não conseguir ser mais bonita, por não conseguir tirar notas baixas e ficar de recuperação, por ser gentil demais, por não abrir a boca quando ouço falarem de mim, por não ter impedido do meu pai se afundar em um poço obscuro e sem volta, por ficar com medo de errar, por estar com medo de pedir um mínimo de atenção para os meus problemas porque simplesmente, por mais que eu tente, não consigo segurar mais o que sinto.

O relógio faz tic tac

O pavio sobre minha cabeça está queimando

E ninguém se liga no perigo que será quando essa bomba estourar em todos