O desafio de conseguir o primeiro... andre ruiz
O desafio de conseguir o primeiro emprego no Brasil é um problema complexo e frustrante, especialmente para os jovens que estão ingressando no mercado de trabalho. O cenário é marcado por uma dissonância: o mercado exige experiência profissional, mas essa experiência só pode ser adquirida por meio de um emprego — o que cria um ciclo vicioso.
Em muitos processos seletivos, as empresas brasileiras exigem que os candidatos tenham uma série de qualificações e competências práticas que, por sua natureza, só podem ser desenvolvidas no ambiente de trabalho. Mesmo para vagas de entrada, onde o propósito deveria ser a capacitação e o desenvolvimento do profissional, é comum ver exigências de anos de experiência na função ou em áreas correlatas. Isso desanima e frustra quem está saindo da escola ou da universidade, pois muitos jovens se deparam com portas fechadas desde o início de suas jornadas profissionais.
Essa dissonância entre o que o mercado pede e o que o candidato pode oferecer é, em parte, fruto de uma cultura empresarial que, ao invés de investir na formação de novos talentos, prefere minimizar riscos e buscar candidatos já prontos para a função. Assim, oportunidades que poderiam servir para treinamento e desenvolvimento acabam sendo oferecidas a pessoas com mais bagagem, perpetuando a dificuldade de quem está começando.
Além disso, o Brasil enfrenta questões estruturais que agravam esse problema. As empresas nem sempre estão dispostas ou preparadas para oferecer programas de estágio, treinamento ou cargos de aprendizado que permitam aos jovens adquirir a experiência necessária. Em muitos casos, o ensino técnico e universitário também não oferece uma formação prática o suficiente para preparar os estudantes para os desafios do mercado.
A consequência desse cenário é a criação de uma geração de jovens que, apesar de terem qualificação acadêmica e vontade de trabalhar, ficam presos na falta de oportunidade. A exigência de experiência torna-se uma barreira, alimentando a frustração e, em muitos casos, o desemprego prolongado entre os mais novos. Este ciclo de exclusão precoce gera, ainda, impacto social mais amplo, pois a inserção profissional tardia compromete a independência financeira e o desenvolvimento pleno de carreiras.
Romper com essa cultura exige tanto a criação de políticas públicas eficazes para fomentar a inserção de jovens no mercado quanto um esforço das empresas em rever suas práticas de recrutamento. Estabelecer programas de mentoria, estágios e treinamentos pode ser uma solução para aproximar esses jovens do mercado de trabalho e ajudá-los a desenvolver as habilidades necessárias para suas carreiras, criando uma ponte mais justa entre a educação e o emprego.
O primeiro emprego deveria ser um marco de possibilidades, e não de frustração. Para isso, é preciso repensar o papel de todos os atores envolvidos — governo, empresas e instituições de ensino — para criar um ciclo mais positivo e acolhedor para quem está apenas começando.