O HORIZONTE Eduardo Galeano respondeu... Sérgio Antunes de Freitas
O HORIZONTE
Eduardo Galeano respondeu a um estudante:
“A utopia está lá no horizonte.
Se me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais alcançá-lo-ei.
Para que serve a utopia?
Serve para isso: para eu não deixar de caminhar.”
Semelhante é a felicidade, pois aparenta estar no horizonte da estrada de nosso destino.
Vamos andando em seu leito, ora pavimentado, ora cheio de pedras, de lama, de osbstáculos deixados por quem ali passou.
Parece ter um único rumo, mas é farta de variantes e atalhos.
Placas de propaganda e locutores alegres indicam opções à monotonia do trajeto. Os locais ofertados são convidativos: fama, riqueza, sucesso, beleza, satisfação instantânea.
Muitas vezes, quem busca esses outros caminhos consegue retornar à via principal ileso; outros se perdem em labirintos desconhecidos. Apenas desperdiçam precioso tempo de vida!
Na senda primordial, as paisagens se modificam diariamente. As laterais podem apresentar árvores frondosas, sombreadoras, frutíferas; regatos de água potável, cristalina, sonoramente borbulhante; pássaros canoros, coloridos, graciosos.
A noite, com fresquidão, traz a lua e as estrelas. E a meditação, como um astrolábio, afere o rumo de nossas existências.
Os lixos largados pelas gerações se acumulam e se espalham. Há cadeiras antigas sem pernas, bonecas sem cabeça, fantasias rasgadas, notas de dinheiro desvalorizado, livros de autoajuda, componentes eletrônicos ultrapassados, pneus gastos, flores de plástico, estilhaços de louça.
Também há trechos inóspitos, com cruzes plantadas nas laterais dos acostamentos. São peças novas, antigas, muito antigas, pintadas, descascadas, enfeitadas, sóbrias, soturnas, miseráveis.
À medida de nosso deslocamento, observamos ser a felicidade apenas uma miragem, acenando no horizonte. Continuamos ultrapassando os mais lentos, sendo ultrapassados pelos mais vigorosos e na mesma velocidade de nossos ombreados pela empatia.
Quando as pernas estão cansadas e o tempo afoito por respostas rápidas e cabais, descobrimos que a felicidade sempre emanou das amizades e dos amores, incessantes, intermitentes ou fugazes - nossas companhias dessa jornada.
Sérgio Antunes de Freitas
21 de agosto de 2024