Chamaram-me culto, poeta brilhante,... António Prates
Chamaram-me culto, poeta brilhante,
fizeram-me versos, mandaram-me flores,
julgando-me perto e eu tão distante
das palmas que tive em tantos louvores.
Não sou o que julgam, tampouco o que pensam,
da minha virtude tão rica e tão falsa,
só quero que as lutas que tenho se vençam,
como um menestrel ao som de uma valsa.
Se fui censurado a mim devo e à coragem,
por todos aqueles que um pouco me devem,
e a todos lhes presto uma justa homenagem
com os falsos preitos que os santos recebem.
Não quero que tenham remorsos ou pena,
não quero que acendam a luz que apaguei,
só quero o destino, que ao longe me acena,
e o gosto agridoce dos versos que dei.