Idéias Estou hoje no meu quarto,... Augusto Galia Fernandes
Idéias
Estou hoje no meu quarto, deitado à cama,
Diferente daquele exposto nos jornais de ontem.
Hoje, o interesse de toda gente é o mesmo.
Descrever-me naquilo que não se há descrição,
Ao longo dos anos tentam, sem sucesso, explicar como é existir sendo eu.
Sendo louco, eu nunca precisei dar explicações a ninguém.
Quem se explica demais está sempre a se confundir.
Eu sou prático e desconexo, mas não me confundo.
Existo nos pensamentos da maneira que deveria existir.
Quanto mais eu transcrevo ideias, criam-me novas ideias.
Sou sempre hoje o que não fui ontem, estou a renovar-me sempre.
Talvez eu seja o que sou, porque não há nada de diferente em ser eu.
Acendo um charuto!
Acendo-o pelo prazer de exibir na fumaça; ideias.
Ideias que, como a fumaça, se desfazem sem rumo.
A minha vida tem sido uma baforada desconexa de tudo que existe.
Tenho sido a exceção até mesmo dos sem exceções.
Tenho sido mais diferente do que aqueles que são indiferentes.
Tenho me destacado aonde ninguém se destacou,
No melhor e no pior...
Construí sozinho e ainda assim, por vezes, dividi o que construí.
Hoje eu olho para trás e não vejo ninguém.
Todos aqueles que hoje estão aqui não estavam quando eu comecei.
No início da minha construção, muitos tentaram prejudicar a edificação.
Passado um tempo, todos os pilares já estavam sustentados sem risco de desabamento.
Os meus amigos desfilavam com o meu sucesso estampado ao rosto como sendo o seu.
Construí sem cimento algum, castelos memoráveis.
Todos os meus sonhos foram edificados sem ideais,
E depois compartilhados com o mundo que me bateu a porta na cara.
Hoje estou de costas para o mundo,
Arquitetando portas aonde não há portas,
Para que passem felizes os que me abandonaram.