Às vezes, essa história de... Edna Frigato
Às vezes, essa história de "tenho memória curta pra ressentimento", "perdoo com facilidade", "esqueço rapidinho" e outros tipos de amnésia me assustam. Parece que sentir virou crime e essa positividade tóxica vai se alastrando em nossa vida. As pessoas querem pasteurizar as dores e colocar até os sentimentos nessa onda de instantaneidade em que vivemos onde tudo é descartável e dura pouco. Me deixem sentir em paz. Eu não guardo ressentimento pra sempre, não fico remoendo dores eternamente, mas não esqueço rapidinho, não perdoou com facilidade e não tenho memória curta. As minhas dores são intensas, meus sofrimentos são legítimos, minhas decepções são profundas, depois de apanhar eu não ofereço a outra face, se for embora eu não quero de volta e se me trair, seja de que forma for, nada vai voltar a ser como antes. Eu tiro da minha vida, tiro do centro da minha atenção, na hora certa deixo pra lá e mesmo com o coração dilacerado eu sigo minha vida. Não em paz, porque onde há dor não há paz. A vida é perfeita eu sei, o próprio tempo se encarrega de afastar a dor. Agora dizer que eu esqueço é no mínimo um desrespeito com meus sentimentos, só se eu tivesse amnésia e não é o caso. Dizer que esqueci sem ter esquecido seria enganar a mim mesma e eu não ganho nada com isso.
Parem de minimizar a dor dos outros. O luto, o sofrimento faz parte do processo de cura. Se você esquece rapidinho, parabéns pra você, só não esqueça que nem todo mundo é igual.