O tempo e o sentido das coisas. Na... Renato Custódio da Silva
O tempo e o sentido das coisas.
Na obra de Dalí (A persistência da memória), nos deparamos com vários relógios retorcidos, quando buscamos a essência artística ali presente, entendemos que ele fala da necessidade do homem em controlar o tempo.
Por vezes, ao olhar para o espelho percebo que tudo é liquido e nada muda, apenas vem aquela sensação do "mais um dia".
Cansados do trabalhos e das pessoas, buscamos refúgio num espaço que destoa a realidade e imortaliza a nossa aparência no auge que gostaríamos de eternizar.
O capitalismo é hostil, trabalha a mente do indivíduo a ponto de fazer com que abra mão dos próprios propósitos de vida, oferece a eles a sensação de segurança e status social momentâneo, mas como disse lá em cima, é tudo líquido.
Abrir mão de propósitos e pessoas, corrobora para o senso consumista e imagético com aquela necessidade desenfreada de auto aprovação, validada por pessoas do outro lado da tela de um smartphone.
As lembranças se perdem num único clique, junto de sensações que evaporam ao simples trocar de aba.
Na vida tudo é transitivo, líquido... mesmo iluminado por essa ideia, faço-me consciente e sinto tudo evaporando dentro de mim, como a saudade, o amor, a admiração e por incrível que pareça, as mágoas.
Num mundo fetichista, o capital ostenta os sentidos e se esses sentidos da vida precisam de capital para serem sustentados, o que ganhamos é o arrependimento de abrir mão de mãos quentes e acalanto, por contatos artificiais que se preocupam com uma foto ao invés de um ser humano, amores se resumem a momentos físicos e a atenção ao que você pode proporcionar de engajamento nas redes.
E no fim, toca o despertador no dia seguinte, o mesmo ciclo, a mesma bajulação, as mesmas cobranças e o mesmo cansaço. Cansaço de tudo e todos. Esquecemos que para o sistema ninguém é insubstituível, mas entre as pessoas, somos o que construímos, os sentimentos podem até evaporar, mas num ciclo natural, formam-se as nuvens e chovem novamente. Eis aí a essência do tempo.
Independente de atmosférico ou cronológico, cabe a interrogação sobre o que fizemos com ele, quanto desperdiçamos, aprendemos e deixamos evaporar em busca de auto afirmação e constituimos, amizades artificiais, imagens deturpadas de si mesmo em prol de conquistar a tal amizade, o sentimento intrínseco de vazio e o arrependimento de derramar lágrimas de outras pessoas em busca da tal modernidade liquida.
No fundo sabemos, que no hoje tudo flui, amanhã as gerações mudam e aquele que hoje se fez um personagem "social", amanhã se torna um velho aos olhos da nova geração, careca, gordo, banguela e por fim, solitário.
O esforço e o cansaço constituído pela auto afirmação do sistema, te trará rugas e decepção, pois na vida, somos o que oferecemos aos outros, no capitalismo a bajulação aparece pela manutenção da posição e na vida pelo conforto oferecido.
Com o passar dos dias esquecemos das outras pessoas, mudam-se as prioridades é uma lei orgânica, diria. Mas efetivamente, o que difere as pessoas das coisas é poder que o tempo tem sobre a permanência nesse mundo, o sistema transforma pessoas em objetos e as próprias pessoas objetificam-se. Em miúdos, não trate pessoas pela sua utilidade momentânea, carência e necessidade, o tempo cobra na mesma moeda.