⁠Tu que dormes à noite na calçada ao... Sandro Paschoal Nogueira

⁠Tu que dormes à noite na calçada ao relento... Sem abrigo... Abraçado à solidão... Recebendo carinhos do sofrimento... Tu que estás em casa só... Dos parentes ... Frase de Sandro Paschoal Nogueira.

⁠Tu que dormes à noite na calçada ao relento...
Sem abrigo...
Abraçado à solidão...
Recebendo carinhos do sofrimento...

Tu que estás em casa só...
Dos parentes e amigos esquecidos...
Que verte lágrimas quentes...
Beijadas pelo vento...

Tu que tens o coração...
Corroído pelo ciúmes...
Que resmunga por onde vais...
O látego dos seus queixumes...

Tu que debruçada nas janelas...
Vez ou outra por detrás das cortinas...
De olhar assustado...
Segurando a língua e as intrigas...

Tu que pelas manhãs e noites frias...
Vaga por bares e boemias...
Procurando preencher o vazio...
Daquilo que nem tem mais sentido...

Tu que cultivas a secura...
Sufocando a ternura...
Vês o tempo indo célere...
Dias e dias...
Luar após luar...

Tu que andas nas sombras...
E que a fome da alma conhece...
Que sofre e não esquece...
O mel de um dia, outrora...
Em que foste feliz...
E sem saber como...
Deixou passar a ventura...
O fel tu agora prova...
Porque bem assim quis...

Estava tudo pronto para receber a felicidade,
e tu não fostes...
Sonhaste e não lutaste...
Os amantes foram e se deram...
A vida aconteceu...

Agora tu praquejas...
Blasfema aos céus por erros teus...

Percebes que sois finito?
Pobre espírito...
Desatas a chorar...
Range os dentes sufocando os gritos...
Há mortos inda que vivos, vivem...
Me convenças de que ainda existes...
Não serei como tu...
Que da vida perdeste o encanto...
Que agora em lamentos...
Sofre pelos teus muitos enganos...

Caminho por onde vou querendo...
Já que nem os mortos como tu...
Apontam -me os dedos...

Sandro Paschoal Nogueira