A beleza escondida nas imperfeições... maria lima
A beleza escondida nas imperfeições
Kintsugi é a arte japonesa de reconstruir uma cerâmica quebrada.
O artesão vai decifrando o lugar de cada pedaço e fixa um a um com uma espécie de resina misturada a pó de ouro.
A peça quebrada retoma sua forma original, porém Já não é mais a mesma, foi para sempre modificada, à sua estrutura foi acrescentada belas cicatrizes douradas, e a peça agora se torna mais resistente e mais valiosa.
A ideia filosófica vinculada ao kintsugi (arte japonesa que valoriza as imperfeições) nos remete a reflexões sobre nossa vida atual, em que buscamos ansiosamente pela perfeição. Ao longo da nossa vida experimentamos limitações, frustrações, perdas importantes, fracassos, rejeições que nos definem como seres frágeis, mas travamos uma verdadeira batalha tentando não entrar em contato com essa nossa fragilidade humana, procuramos esconder a todo custo dos outros como de fato nos sentimos e realmente somos ou nos percebemos.
E assim, negando, vamos fingindo sermos infalíveis, nos encaixando ao que seria socialmente aceito. Calando nossos gritos internos passamos a viver em função da aprovação/aceitação alheia. Deixamos de viver, no momento em que escolhemos apenas "representar um papel" socialmente esperado.
Só nos permitimos nos mostrar através de filtros que encobrem nossa natureza frágil e imperfeita.
Esquecemos que é caindo que aprendemos a caminhar, que os tombos que levamos nos ensinam a levantarmos, que a dor do sofrimento nos mostra o quanto somos resistentes, que a falta nos ensina o verdadeiro valor das coisas, e que sim as cicatrizes que trazemos internamente é que podem contar nossa verdadeira história.
Não precisamos ter medo de revelar que fomos feridos ao longo da vida, pois quando reconhecemos que tais feridas cicatrizaram, nos tornamos cientes da nossa força e capacidade de nos reinventarmos.