É como virar um quadro de uma obra... Damarys Fernandes
É como virar um quadro de uma obra de arte e descobrir que o pintor pode ter iniciado de um ponto de perspectiva diferente, e que talvez a sua inspiração não seja aquela findada e fixa na parede. A arte é um reflexo do artista, mas também é um espelho que reflete aqueles que a veem. O artista deixa seu rastro na tela, mas o observador também deixa o seu, na forma de interpretações e sentimentos.
Por vezes, o pintor poderia ter esquecido algum detalhe pelo caminho ou se perder entre as infindáveis cores que uma pincelada proporciona em apenas um delicado toque. A presença de algum fio inconveniente e desajustado do pincel, que naquele exato momento de sua inspiração tocara a tela e traçara o retoque. E tudo muda, a posição, a sombra, as luzes, o volume e até a superfície que àquele toque deixara.
Assim, é cada um de nós nesta vastidão do tempo que é a vida, quando revemos e desnaturalizamos a nossa óptica. Temos a capacidade de mudar a perspectiva a partir da qual vemos a vida e a nós mesmos, e essa capacidade é uma forma poderosa de crescimento e autodescoberta.
Aí sim, compreendemos que temos muito que desprender para concernir os significados de todas as nossas composições. Para quê fomos criados e porque estamos despertando elementos constitutivos em olhares de outrem. Nosso papel no mundo é algo que construímos e reconstruímos ao longo de nossa existência, e cada ação, cada interação, cada pensamento contribui para essa construção.
Como pode a loucura de um pintor ser mais sábia que a sabedoria humana, e a fraqueza dele ser mais forte que a força humana?! A arte nos ensina que há sabedoria na loucura e força na fraqueza. O ato de criar é um ato de coragem e força, e a liberdade criativa que o artista exerce é uma forma de sabedoria que desafia as convenções e desafia as expectativas.
[...] E Deus viu que o que havia feito era bom.