Um Dia, Parti Numa manhã que prometia... Eduardo Bispo de Paula

Um Dia, Parti Numa manhã que prometia mais do mesmo, tomei a decisão que mudaria o curso da minha existência. Um dia, sem mais nem menos, parti. Não deixei nota... Frase de Eduardo Bispo de Paula.

Um Dia, Parti

Numa manhã que prometia mais do mesmo, tomei a decisão que mudaria o curso da minha existência. Um dia, sem mais nem menos, parti. Não deixei notas, nem explicações. Apenas fechei a porta atrás de mim, na tentativa de me encontrar nas ruas desconhecidas da vida. Mas, à medida que os quilômetros se desdobravam sob meus pés, percebi que estava, na verdade, fugindo das incertezas que habitavam meu próprio ser.

Vivi intensamente, acreditei que nos prazeres encontraria as respostas que tanto buscava. Noites sem fim, risos e olhares compartilhados com estranhos, cada experiência mais efêmera que a anterior. Mas ao invés de saciar, cada nova aventura apenas ampliava o vazio dentro de mim. Nada mais me aprazia; os prazeres tornaram-se fugazes e insípidos.

Amores? Busquei-os em cada rosto, em cada gesto de carinho. Amores perdidos, amores imaginados, amores que nunca chegaram a ser. Cada tentativa, um novo pedaço de mim que se perdia, deixando atrás apenas o eco de sentimentos não correspondidos. E, com cada partida, uma parte de mim também se ia, deixando-me cada vez mais fragmentado, uma coleção de pedaços que já não sabia como juntar.

Minha voz, outrora firme e cheia de convicção, foi se tornando cada vez mais um sussurro. Silenciada pelas expectativas dos outros, pelas conveniências sociais, pelo medo de desagradar. Aprendi a falar o que esperavam ouvir, a agir conforme o esperado, até que não soube mais distinguir onde acabava o personagem e começava o eu verdadeiro. Minha essência foi se diluindo, até restar apenas o eco de quem eu costumava ser.

Entre chegadas e partidas, parti-me. Dividido entre o desejo de pertencer e a necessidade de ser autêntico, perdi-me. A jornada para me encontrar revelou-se uma odisséia sem fim, um labirinto de espelhos onde a saída parecia sempre estar a um passo, mas sempre fora de alcance.

E assim sigo, um viajante perdido nas próprias incertezas, buscando em vão a peça que complemente o quebra-cabeça de minha alma. Um dia, parti em busca de mim mesmo, mas no caminho, perdi-me. Resta a esperança, tênue e persistente, de que talvez, em algum cruzamento inesperado da vida, eu me encontre novamente.