GESTAÇÃO Um dia, a única... Juan Victhor
GESTAÇÃO
Um dia, a única perspectiva de vida que tive era de viver para sempre envelopado numa bolsa aquosa como um peixe preso em meio ao oceano. Questionava-me constantemente o que haveria de acontecer quando chegasse o dia da partida, se haveria de existir um proceder depois dali e incansavelmente nunca obtive respostas. Nove meses se passaram e o meu espaço nunca havia sido tão reduzido, o ruído externo parecia estar cada vez mais forte, a morte suspirava-me o sangue. Conforme o tempo passava, a certeza da incerteza era cada vez mais latente e, no agir da não esperança, uma luz fina começou a invadir minha escuridão. Não sabia o que estava acontecendo, nem muito menos aonde iria chegar, mas de repente a firmeza de algo dividido em cinco partes me tirou do aperto em que eu estava e, enquanto a luz adentrava a escuridão, minha mãe dava-me a luz deitada sob a maca. Naquele dia, eu descobri que após minha aparente morte existia vida e hoje vivo sabendo que partindo hei de viver numa luz de parto, pois certamente nunca há espera quando existe vida.