A BAGAGEM Irei me despir e despedir.... Odlin Porto
A BAGAGEM
Irei me despir e despedir.
Despir do lodo e das agruras,
Para me despedir mais leve.
Seguirei de pés descalços.
“Nu cheguei” e assim retornarei.
Nada mais levarei.
Nem vestes porei.
Nem andrajos, nem balangandãs.
Apenas a bagagem do que vivenciei.
Espero uma estrada suave
ao transpor a cortina noutra dimensão.
No lado de cá, pouco evoluí, mas,
busquei vencer as maldades.
Lá, abrirei a bagagem com parcos bons atos.
Nela, coloquei tudo que aqui amealhei.
Para quem? como me servirão?
Não sei...
Sem véu, nem céu, esta alma seguirá.
Sem pieguices religiosas, mas sei que,
após o torpor do desembarque,
terei embates naquele além-túmulo.
Quem me receberá?
Cristianizados e não, me esperam,
porque fui ácido em tantas conjecturas.
Na bagagem, catarei as lições de então.
Verei minha mãe que,
“saudosa da escravidão” ainda chora?
e meu pai, talvez ainda debalde,
buscando se reencontrar...?
Então lá, sonharei ao vivo e vivo,
viverei um novo sonho.