⁠Fúria avassaladora, eu sei quem és... GIL M. FLEMING

⁠Fúria avassaladora, eu sei quem és
Sei da onde vens e para onde vais
Sei o que queres e o que abomina
Sei da tua coragem e do teu medo
Sei da vontade de chorar nas tardes de chuva
Sei da impotência quanto à infância infeliz
Sei das lembranças dolorosas que insistem em te acordar
Sei do teu início e tremo em pensar qual será teu fim
Sei que nada posso fazer, mas mesmo assim tento
Tento afagar teus cabelos, empastados com o desespero
Tento enxugar tuas lágrimas, já vermelhas
Tento acariciar-lhe o rosto, ainda suado do último pesadelo
Tento abraçar-te, assombrado por teu tamanho
Tento virar tua face, tirando-a do passado
Tento um sorriso e me amedronto com a dureza desta cerviz
Tento, por fim, chorar. Um choro manso, miúdo, sorrateiro,
insistente. Choro de quem gosta, quem procura a felicidade.
Calmo, sereno, ainda que passional.
Assim, pacientemente, espero penetrar no vórtice e dissipar,
antes que seja tarde, teu furacão.