De repente o silêncio vai se fazendo... Anônima TCL
De repente o silêncio vai se fazendo muito mais presente. As ligações mais breves, nas mensagens apenas o básico.
As conversas não são sobre nós, falamos deles, de outros e outros tantos.
Por um tempo acreditei que era normal, costume, rotina, cansaço, correria. Passamos a nos falar menos, preferi engolir as palavras, me aliei ao silêncio.
Guardei as histórias que queria contar e qdo as contava era pra pessoas que realmente iam me escutar e não apenas me ouvir.
Olhando de fora, tudo fluia perfeitamente.
Olhando de dentro, tudo funcionava silenciosamente.
Olhando por dentro, percebo qto me anulo pra continuar.
Olhando pra dentro, percebo que continuando nada vai mudar
Olhando pra fora, vejo a vida passar.
Nada muda, a rotina que por vezes achei benéfica passou a me incomodar, seguimos todas as regras da boa convivência que criamos (talvez inconscientemente), vez ou outra tinha o carinho no sofá, cabeça no colo, cafuné gostoso, seguíamos pra cama, fazíamos amor em silêncio e dormíamos. Nossos olhos não se fitavam mais, há silêncio até no olhar.
Nossa imaturidade misturada com a inexperiência nos fez acreditar que o amor era isso, aliás que o amor era "só" isso!
Mas, lá dentro de mim existia uma inquietação, eu precisava ir mais além.
Ficamos longe por um tempo...
Neste tempo voei alto, me ouvi, me permiti, me encontrei comigo mesmo.
Sou muito mais do que imaginei.
Me apaixonei por quem eu sou de verdade, me permiti ser eu mesmo, sem ter que me explicar.
Decidimos voltar...
Nesta volta achei que muita coisa mudaria, de fato mudou, passamos a disfarçar melhor. Seguimos com mais destreza o script e agora sabemos como esconder a sujeira debaixo do tapete, pra deixar a cada limpa.
Disfarçamos pra nós mesmos que está tudo certo. Nossa amizade se fortaleceu, é isso!
Passei a sentir a necessidade de dar voz ao meu corpo, e era nestes momentos que percebia algo preocupante demais: nossos corpos nunca se falaram.
Não somos culpados, achávamos que este era o limite do amor.
Só que nunca houve a vontade ou interesse de ultrapassar esse limite, de ousar um pouco mais.
Qdo percebi que queria ir além, peguei sua mão e tentei te mostrar o que vi lá fora, vc não quis.
Não foi por falta de tentar, tantas vezes tentei avançar o sinal, vc me segurou e eu aceitei. Não queria que fizesse só por mim.
Agora sim me culpo!
De novo me calei, errei!
Errei muito comigo por silenciar minhas vontades, pra ficar onde era confortável pra você e consequentemente mais cômodo pra mim.
Só que o comodismo aos poucos foi se transformando no inconformismo.
Será que pra você está realmente assim?
Tenho tanto pra falar!
Não sobre a vida lá fora, mas sobre essa vida que existe e persiste aqui dentro de mim.
Até que ponto somos iguais?
Será que você sente o mesmo e também silencia pra que manter o que está aparentemente perfeito?
Tenho tantas perguntas mas prefiro me calar.
Muitas vezes me senti como o poeta que abandona a poesia antes de escrevê-la.
Como quem não tem habilidade com as palavras e precisa palestrar.
Como o artista de circo que arranca sorriso da plateia, mas qdo tira sua maquiagem percebe que não sabe sorrir.
Quero seu bem, mas me quero bem tb.
Te gostar é algo que nunca vai mudar, só que decidi que preciso amar!
Construímos nosso amor sobre uma estrutura muito sólida: a amizade. Equivocadamente ou propositadamente: não sei!
Sei que era o modelo menos arriscado, era o padrão imposto, exemplo a seguir. Seguimos! Chegamos aqui...
Deu certo até agora e poderia permanecer assim por décadas e décadas.
(O silêncio do início desse texto se fez presente agora, enquanto busco as palavras da próxima frase!!!)
Só preciso me ouvir!
Quem disse que o "vocês são perfeitos" é o perfeito pra mim.
Somos seres imperfeitos, então preciso viver minha imperfeição.
Quem disse que o que é bom para os outros é o bom pra mim?
Dessa vez, não posso me calar e nem quero engolir o que tenho a dizer, entende?
Não dá mais pra engolir as palavras pra evitar impasses e conflitos, estou sufocado de tanto silêncio.
Não dá mais pra adiar, a vida é agora.