A MÃO AMARELA Demétrio Sena - Magé... Demétrio Sena - Magé
A MÃO AMARELA
Demétrio Sena - Magé
Algumas vezes, nos ambientes mais improváveis, por serem nossos ambientes, mesmo depois de maduros temos aquela sensação da "mão amarela". Lembram? "Quem peidou é quem está com a mão amarela". Aí, um menino como eu, cheio de complexos de culpa por indução externa, mesmo não tendo sido quem peidou se apressava em conferir a palma da mão. Discretamente, porém o fazia. Quem sabe não tinha sido eu, ainda que sem saber? Ou quem sabe não fui eu, sem ter sido?
Em inúmeras situações, isolada ou continuamente - o mais comum -, a sociedade, como um todo ou por setor, faz assim com os menos favorecidos de grana, força física, status, destaque ou aparência, conforme a ocasião, levando-os a sentir uma culpa inexplicável, pelo que não fizeram. Também os levando a se auto punir como se o Possível Deus condenasse neles o pecado original. Não por terem cometido, ao pé-da-letra, mas por supostamente serem das classes que têm sempre as mãos amarelas, independente de quem peide no momento. O que sempre pareceu uma brincadeira entre família ou coleguinhas, é uma vasta realidade nos meios sociais onde após criados acreditamos serem onde mais nos discriminam, desconfiam, se precaveem ou se preservam de nós.
Confesso que muitas vezes me sinto, entre as pessoas mais queridas, como aquele menino que provavelmente peidou, quem sabe até sem saber. Ou peidou mesmo sem ter peidado. Pois "meu passado me condena". E condenaria, mesmo não condenável. E os ambientes que deveriam ser os mais improváveis, por serem meus ambientes, já se tornaram para mim os mais previsíveis. Os mais prováveis. Onde a palma de minha mão nunca deixará de ser amarela.
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Respeite autorias. Isso é lei