Quando éramos crianças, eu, minha... Carina S. Barros
Quando éramos crianças, eu, minha irmã e meu irmão íamos caminhando com o papai pelas ruas do jóquei até chegar a casa da vovó, algumas quadras depois. O percurso deveria durar uns dez minutos, mas gastávamos mais de uma hora. O motivo da demora era que papai dava bom dia a todas as pessoas, conhecidas ou não, que cruzava o nosso caminho. Ele parava para conversar com as tias, os tios, as primas, os primos, a comadre, os amigos, o padeiro, o verdureiro. Mamãe dizia que ele andava fazendo reisado. Papai tinha uma mania bonita de olhar as pessoas e enxergá-las para além da sua roupa, gênero, crença, status. As histórias das pessoas sempre lhe interessava mais. Depois que papai voou, as lembranças mais bonitas que me recordo, são dos momentos mais simples que compartilhamos. Essas coisas miúdas que o cotidiano apressado tenta roubar de nós. Que eu nunca esqueça que no fim de tudo, somente o afeto, as histórias vividas e o bem que damos permanece. O resto, se perde no tempo.