Tinha nove anos quando morri a... Laís Almeida Moll
Tinha nove anos quando morri a primeira vez, aquele dia bucólico sagrado cheio de misericórdia e cinzas
Quando a vida me deu o primeiro apagão e um berro me trouxe de volta, mas não voltei a mesma, alguns pedaços ficaram lá no meu mundinho inocente
Jogaram fora as minhas bonecas e aquele vestido de bolinhas que eu amava, a correnteza do rio levou muito mais que coisinhas bobas de menina
Ainda acordo nas madrugadas morrendo afogada, palato amargo da bile e o nariz entupido
corro lá fora procurando meu vestido no varal, e lá encontro as bonecas penduradas com água até o pescoço
o gosto de cinzeiro e ressaca, a boca branca de magnésia
Ar insalubre com cheiro de morte, rançoso e amoníaco
Sigo morrendo sucessivamente, lavando feridas com absinto, na tentação de salvá-las me negligencio
Eu nunca mais serei a mesma