Amigos secretos partilham segredos... Umbelina Marçal Gadêlha...
Amigos secretos partilham segredos
Amigo, desde que ocasionalmente descobri o teu segredo
Mesmo sem tencionar, me tornei tua amiga oculta,
conhecedora das vicissitudes do teu predileto brinquedo.
Guardo segredos que nem mesmo tu consegues guardar.
E por saber dos teus mais libidinosos pecados, eu sinto medo
E uma profunda incerteza começa a me habitar.
Uma amizade que começa com segredos mal contados
pode ser mesmo amizade verdadeira ou é pura asneira?
Porém, seja lá o que for essa insensatez resistiu ao tempo.
É que de ti fiquei cativa a espera de tantas outras revelações
driblando as limitadas situações, fomento astuciosas ocasiões
que me alimentam de inusitadas confissões do teu passatempo
porque existe dentro de mim uma pessoa avidamente curiosa,
que precisa ser constantemente saciada de tuas peripécias.
E quando desapareces irrompe-se uma aguda lacuna queixosa,
um hiato que precisa ser quebrado, que só por ti é realimentado.
Sinto falta de jogar conversa fora, cedo da noite ou fora de hora.
E desde que fostes embora, acompanho o tic tac do passar das horas.
Mas o vazio interior não faz parar o tempo que alimenta a ansiedade
de uma solitária e introvertida senhora. O relógio corrobora.
Já não existe um cretino aventureiro a me entreter e me fazer rir
derramando seu charme e fofocando dos seus casos de aventuras inusitadas.
Suas conquistas, suas diabruras que me racham de sorrir.
Já não há que me choque com suas loucuras salientadas.
Não queres mais me chocar com a tua falta de compromisso e afeto
por tuas amantes insaciáveis, tuas ficantes de cenas picantes?
Onde estão as tuas charmosas idosas carentes e as vorazes ninfetas?
Cadê as senhoras viúvas sedentas e as mulheres casadas carentes?
E aquelas mulheres avulsas que logo afastas se te afetas?
Tenho curiosidade de rir com tantas mentiras esfarrapadas,
contadas como se fossem verdades irrefutáveis. Tantas luxúrias.
Sinto a falta de sentir pena da ingenuidade delas. Quanta espúria!
Sinto falta de destilar meus inúteis e incontáveis sermões
sobre as tuas atitudes rudes de despachar as tuas aventuras.
Tenho curiosidade de conhecer o mistério de tantas conquistas.
Que feitiço jogastes em todas elas que se dão sem exceções
e acreditam inteiramente nas tuas mentiras e tuas falsidades?
Que mandiga fizestes para que elas aceitem o tempo limitado
roubado da tua matriz que nem desconfia da infinidade de filiais?
Eu gostaria de desconhecer os teus segredos incompartilháveis.