PRIMEIRA EPÍSTOLA: APOTEOSE AO... Filipe Feros
PRIMEIRA EPÍSTOLA: APOTEOSE AO DESESPERO LÚCIDO
No estandarte da noite bizarra,
corto os pulsos de minha quimera,
com a mesma lâmina que tiro os pelos do meu rosto.
O dia despertou de meus sonhos, somente para bater em minha cara.
Senti a volúpia do seu desespero,
enquanto me perfurava com seus olhos de flechas, tendo fogo em suas pontas,
me fizeste queimar minha última carta de amor,
meu último poema
e meu último repulso.
Remotas gritarias em meu interior,
são silêncios para quem tem esperança,
um surdo compreende melhor o que digo,
do que um versado.
Tenho andando por um deserto, tendo que beber o veneno de minha saliva,
para matar a sede por vingança.
O único direito que possuo, é o de segurar as lágrimas,
para não fertilizar o solo com minha tragédia.
Faca enferrujada gravada em minha garganta,
golpeando lentamente minha respiração,
solto em segundos, a sensação de um animal sendo sacrificado.
O desespero é axiomático até se olhar no espelho,
não há dúvida maior que ele,
quem escuta o grito do meu reflexo do outro do espelho?
Qual dos meus cantos irá quebrar o espelho?
Que vida levo em frente ao espelho?
Maldito vidro quebrado em meus olhos, a dúvida é o axioma absoluto.
Prisão perpétua significa poeta,
no dicionário de dores.
Fui crucificado em uma cruz de papel,
tendo as mãos e os pés presos e perfurados por canetas,
furos que me mostram o outro lado do sofrimento.
Através dos vazios que preenchem minha carcaça,
constato o infortúnio de está vivo.
Arrasto os meus sentimentos, sobre uma tábua com pregos,
está que sustenta o arcabouço do meu caos.
Estou a cada poema, com a língua mais áspera,
o gosto amargo está cada vez mais intenso
e a agonia roubando minha visão.
A noite me deixou viúvo, suicidou-se em meus pesadelos,
deixando-me sem ilusões de adormecer.
A guerra não cessa no meu sono,
há um novo ápice a cada piscada de olhos.
O dia continua bofetando minha cara,
ela já está tão deformada,
que nem minha mágoa me reconhece!
Destino inexorável, impiedoso,
imperfeito.
Nem aspirina supre meus problemas,
pelo contrário, ela os desperta
como feras esfomeadas,
se alimentando de meu descanso.