AMORFA Hoje o papel me perguntou: —... Filipe Feros
AMORFA
Hoje o papel me perguntou:
— Você novamente? O que queres agora de mim?
Reclamando através de minhas letras
Tendo nojo da tinta com que escrevo
Rasgando-me a mão
Gritando VINGANÇA
Aos meus pecados
O pesadelo bate na minha porta
Senta-se ao meu lado
Acompanha-me no café da tarde
E me conta seus sonhos...
O papel conjuga isso a traição
Sente ciúmes dos meus piores traumas
Humilha-me e me guarda em seus rabiscos
Não tenho escolhas, para que eu coma
Preciso dividir o pão com Satanás
A fumaça do meu cigarro perfura a ferida que contém no meu sangue
Meus sentimentos sofrem diariamente hemorragias
Onde ardem minhas paixões
Amo a mim mesmo... E qualquer dor que há na minha carcaça
Os abutres se deliciarão comendo minhas visões
Quem dera eu comer meus próprios restos
E queimar meus próprios poemas
Sinto o nada
O vazio é a única moradia que recebe meu remorso
Preciso encarar o papel com os mesmos olhos
Que mato o espelho
Devido às calúnias que contei a alma
Se deita comigo o adeus