O BURRO Quando os peixes voavam e as... G. K. Chesterton
O BURRO
Quando os peixes voavam e as florestas
Moviam-se e espinheiros davam figos,
Num momento em que a lua era de sangue,
Eu decerto nasci: tempos antigos.
Com uma cabeça enorme e um grito ascoso
E orelhas – duas asas aberrantes –,
Sou a paródia mesma do demônio
Por entre todos mais quadrupedantes.
A andrajosa escumalha deste mundo,
Cuja perversidade não tem fim,
Escarnece-me, bate-me, esfomeia-me,
E eu guardo o meu segredo para mim.
Estultos! Eu também tive uma hora,
Distante e doce e minha – uma hora ardente:
Bradava a multidão à minha volta
E espalhava-me palmas pela frente.