Sobre a grama havia um papel Nele... Figueredo
Sobre a grama havia um papel
Nele não havia nada escrito
Amassado por completo
E mesmo com o vento, estarrecido
Nem com a chuva se movia
Se secava ao sol que precedia
Com o tempo foi perdendo a linha
Era a folha do caderno de um suicida
Só a morte poderia lê-lo
E assim o fez com muito zelo
Suas palavras eram profundas como o fundo de um poço
Ele se atirara lá um pouco mais cedo, era um bom-moço
Formulava o infinito e o guardava dentro de si
Compreendê-lo era complexo, tal como língua tupi-guarani
Dentro de um buraco abstrato não havia reversão
Colocou pedras acima dele, por livre e espontânea precaução
Descansar os ossos lhe parecia agradável
Havia sempre algo no caminho, não era nada fácil
Sua mente era um tanto quanto volátil
Aparentemente forte, e era, até ficar frágil
A folha era tão atônita quanto ele, fria e calma
Sujou-se com o barro e com a grama
Nem o que toca o coração, nem o que toca o pensamento
Nem a mais triste das canções tocaria novamente a sua alma
Tudo era efêmero e logo se tornaria apenas memórias
Nesse caso, nada satisfatórias
O tempo passou e a música acabou
Tão cedo quanto foi dizer 'olá', já era hora de dizer 'adeus'.