MULHER SEM SER Chorava. Era mulher... Carlos de Castro
MULHER SEM SER
Chorava.
Era mulher
Sofrida
Sem cor
Ou amor
Pela vida.
Ofereci-lhe um flor.
Do monte,
Rebelde como a liberdade
Da sua idade
Proibida,
Insentida,
Naquele corpo franzino,
Sem fulgor,
Nem horizonte,
Que mora mesmo defronte
À fronteira da dor
Por demais consentida.
Ela, aceitou a minha flor.
Por ser do monte
E do monte só
Porque tinha a frescura
Que tem a água da fonte
E lhe matava a sede dura.
E para me não meter mais dó,
Ou compaixão no olhar,
Pediu-me que a deixasse só,
Para que não a visse chorar.
(Carlos De Castro, In Há Um Livro Por Escrever, em 10-03-2023)