Lá nas sábias entidades Desse vasto... António Prates
Lá nas sábias entidades
Desse vasto território
Faz-se algo apelatório
Para o dom das caridades
Falam essas sumidades
Deste rumo deprimente
Como quem esteve ausente
Daquilo que bem conhece
E o povo é quem padece
Nas garras de certa gente.
Um arrumo nos casacos
Um esgar, um arrepio
Um prenúncio deste frio
Num trejeito de macacos
A aragem nos sovacos
O tremor em corpos sãos
O mancar dos anciãos
No tributo à voz do vento
Cede a prova do momento
Com o frio das suas mãos.
Os ossos do dia-a-dia
Nas alturas de carência
São ensino, por excelência
Pela sua antinomia
Além da ortopedia
E do cerne da matéria
A corrente da artéria
Mostra fracas cartilagens
Para aquelas personagens
Que se fartam de miséria.
Todo o lobo na matriz
Da raiz da sua essência
Tem talento e apetência
pra fazer o que não diz
Dentro dessa bissectriz
Da paisagem dividida
Uma parte é dirigida
Ao engano da verdade
Enquanto a outra metade
Gere o pão da sua vida.
Companheiros de matilha
Aliados da má-língua
Fazem jus à sua míngua
Com aleives na quadrilha
Tudo soa a maravilha
Aos cordeiros aparentes
Forjam logros indecentes
A troco do seu proveito
E a torto e a direito
São por vezes inocentes.
Brilham como divindade
Dos altivos campanários
No mais visto dos cenários
Da estranha sociedade
Talvez por necessidade
Das vaidades assumidas
As prosápias exibidas
Não se mostram em segredo
Enquanto este povo ledo
Tem as palmas estendidas.